Uma viagem à Amazónia

Por: Luiz Carlos de Brito Lourenço

O Brasil é um continuum de espaço e tempo ainda a ser revelado quando o tema é a Amazónia. Através do olhar vocacionado do cinéma du réel, o reconhecido produtor cinematográfico e documentarista brasileiro, João Moreira Salles – realizador de, entre outros, o corajoso Notícias de uma guerra particular (1999) e os biográficos Santiago (2007) e  No intenso agora (2017) –, escreveu Arrabalde: em busca da Amazônia (anteriormente referido neste blogue). São fotogramas de viagem a lugares do mais extenso cenário de biodiversidade do planeta. Salles compõe um abrangente registo de evidências e emoções sob a perspectiva ambiental, científica e socioeconómica, que multiplicam o conhecimento dos estudos sobre o bioma da Amazónia brasileira. Como numa novela, parte do texto foi periodicamente antecipada, a partir de novembro de 2021, em seis artigos densos para a revista de cultura Piauí, da qual Salles é editor. A versão impressa generosamente incorporou, pelo menos, um terço a mais de relatos.

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A produção do mundo: estudos críticos da logística em Portugal

Por: Simone Tulumello

A palavra “logística” remete para um imaginário feito de contentores, autocarros, navios, aeroportos, armazéns, códigos de barras; de grandes empresas multinacionais; para a  ideia de fluxos; para a circulação de produtos, coisas, pessoas e capitais numa escala que vai do planetário ao local: um clique na Amazon e, 24 horas depois, um produto está à porta de casa; um clique na Uber e, 5 minutos depois, um carro está à nossa espera. Simples, rápido, fácil – smooth.

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A irrelevância da Sociologia e da Antropologia na elaboração do relatório sobre o estado da segurança alimentar e nutricional no mundo

Por Virgínia Henriques Calado

Entre o expectável rigor tecnocrático, alicerçado na prova estatística, e a desconstrução e a assunção da falibilidade do humano muitas vezes propostas pelas ciências sociais, a escolha tem sido feita sem grandes hesitações. Tem cabido à primeira destas propostas a preponderância por parte de quem tem poder para condicionar as políticas seguidas por quem governa. A esta regra não têm escapado as grandes instituições intergovernamentais, por exemplo, as que se abrigam no quadro das Nações Unidas. Continuar a ler

“Ambiente, Território e Sociedade. Novas Agendas de Investigação”: um final feliz

Por Ana Horta

O mundo académico é terrivelmente competitivo. Mas quando há cooperação os resultados surgem mais depressa – e com vantagens para todos. O livro Ambiente, Território e Sociedade. Novas Agendas de Investigação, agora disponível ao público gratuitamente em pdf e com a reimpressão de mais exemplares em preparação, é um bom exemplo das vantagens da cooperação no mundo académico.

Foi numa reunião mensal do grupo de investigação Ambiente, Território e Sociedade que a ideia do livro surgiu. O grupo tinha recebido do Instituto de Ciências Sociais um fundo de mil euros para utilizar até ao final do ano de 2015. Ao discutir qual seria a melhor forma de o fazer, procurou-se encontrar uma em que todos os membros do grupo pudessem beneficiar e do modo mais equitativo possível. Por unanimidade optou-se por uma publicação que correspondesse aos objetivos do grupo de investigação, enquadrados no programa estratégico do ICS, e em que cada membro escrevesse um texto. O maior desafio era o prazo: as despesas do livro teriam de ser pagas até ao final do ano. E estávamos a 1 de julho.

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Agricultura em Portugal, mil anos de História

Por Dulce Freire

Acabou de sair o primeiro livro sobre a história da agricultura em Portugal. Ainda que o país tenha sido essencialmente agrícola até aos anos 60 do século XX, faltava fazer uma síntese desse percurso e, também, das décadas mais recentes. A obra oferece uma perspectiva de longa duração, que começa nos primórdios da nacionalidade e se estende até ao século XXI. Trata-se de An Agrarian History of Portugal, 1000-2000. Economic development on the European Frontier, publicada pela editora Brill. Este é um livro colectivo, em inglês, que reúne onze investigadores que, nas últimas décadas, se têm dedicado à pesquisa de várias temáticas relacionadas com a produção e o consumo de bens alimentares.

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Capa do livro “An Agrarian History of Portugal, 1000-2000”. Fonte: Brill

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As ciências sociais como virtuosismo político e social: a epistemologia de Bent Flyvbjerg

Este é o quarto post da série “A utilidade das Ciência Sociais

Por Marco Allegra

Qual é a utilidade das ciências sociais? Qual o seu impacto na sociedade? E quais as opções (epistemológicas, metodológicas, políticas) disponíveis para o investigador maximizar este impacto – mantendo, ao mesmo tempo,  autonomia e a independência que muitos de nós associamos ao estatuto da ciência? Estas são algumas das perguntas essenciais  subjacentes ao recente post de Andy Inch neste blogue – seguido de um contributo de Simone Tulumello sobre “a ciência do possibilismo”.

Tive a oportunidade adicional de refletir sobre este tema durante o último seminário do nosso grupo de investigação. O debate que seguiu a apresentação sobre as metodologias quantitativas transformou-se, de facto, numa discussão sobre o processo de construção dos dados, a relação entre dados qualitativos e quantitativos, e as possibilidades de integração destes no desenho da pesquisa.

Neste post gostaria de continuar esta conversa encaixando-a numa perspetiva mais alargada – num discurso sobre os fundamentos epistemológicos das ciências sociais, a epistemologia sendo “o estudo do conhecimento e das crenças justificadas” e, mais em geral, “a criação e a disseminação do conhecimento em áreas de investigação específicas” (EpistemologyStanford Encyclopedia of Philosophy) – para depois voltar às questões levantadas por Andy descrevendo a proposta epistemológica de Bent Flyvbjerg sobre as ciências sociais como virtuosismo político e social. Continuar a ler

Um comentário ao livro Portugal: ambientes de mudança

Autora: Ana Delicado

Acaba de ser publicado o livro Portugal: ambientes de mudança – erros, mentiras e conquistas, da autoria de Luísa Schmidt, coordenadora do Observa e investigadora do Grupo de Investigação ´Ambiente, Território e Sociedade`. Lançado a 2 de novembro no Centro Cultural de Belém, contou com uma ampla divulgação mediática nos jornais e televisões e com a presença de variadas figuras da academia, dos media e da política de ambiente.

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Sulcando e atravessando territórios de pesquisa

José Luís Cardoso

Comentário sobre o livro:

João Ferrão e Ana Horta (orgs.), Ambiente, Território e Sociedade: novas agendas de investigação. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 2015.

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Que existe de comum entre as preocupações com o consumo alimentar sustentável e com a energia que se consome ou desperdiça? Que pontes e caminhos cognitivos cruzam águas poluídas e lixeiras produzidas pelo homo urbanus?  Quais os efeitos que adultos e crianças sentem e sofrem por viverem em ambiente debilitado que lhes afecta a saúde? Que formas de participação cívica e política estão ao alcance dos cidadãos interessados em intervir na construção das condições de melhoria do seu bem-estar? Qual o envolvimento e que tipo de empenho se espera dos decisores públicos na condução de políticas que dignifiquem e valorizem a nossa existência individual e colectiva?

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