A nova agenda socioambiental brasileira

Por: Luiz Carlos de Brito Lourenço

É difícil compreender quando não se presta atenção”. É assim que o documentarista cinematográfico e fundador da revista de cultura piauí, João Moreira Salles, entre indiferenças, equívocos e sonhos brasileiros sobre a região da Amazónia, orienta o seu olhar para a floresta em seu livro Arrabalde: Em busca da Amazônia (1ª. ed., São Paulo, Companhia das Letras, 2022). Após a aclamação do Presidente Lula da Silva, em 30 de outubro de 2022, quando os gestores incumbentes revelaram a incúria da área ambiental do país no último mandato, confirmou-se um claro sentimento de desleixo segundo o Relatório Final do Gabinete de Transição Governamental, redigido por autoridades, parlamentares e especialistas. Não foi surpresa ver o descumprimento do dever público no Brasil; porém, choca a sua intencionalidade.

A julgar pela receptividade internacional, a melhor expressão do terceiro mandato de Lula reside possivelmente no avanço da gestão socioambiental que governará o Brasil até 2026. Com o dilema do crescimento económico e rigidez orçamental, ao que se soma uma reforma tributária sob uma conjuntura única de 32 legendas partidárias, num país desigual e polarizado, o novo mandatário terá de contar com suporte do poder judiciário para enfrentar retrocessos normativos.

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Second Edition of the Lisbon Early-Career Workshop in Urban Studies 2022

By: Luisa Rossini

The Urban Transitions Hub (as part of the SHIFT research group) hosted, from the 23rd to the 25th of November 2022, at ICS-ULisboa, the second edition of the Lisbon Early-Career Workshop in Urban Studies, with the support of the AESOP Young Academics Network. 16 PhD students and early-career scholars from all over Europe and abroad gathered for the opportunity to present and discuss their research projects and/or findings during a 3-day event organized as a space of exchange, debate and learning. The topic for this second edition was “Social Mobilisations and Planning through Crisis.”

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O que são, o que não são e o que podem vir a ser as assembleias de cidadãos. Uma reflexão sobre o Conselho de Cidadãos de Lisboa

Por: Roberto Falanga

Nos últimos tempos, o debate público sobre “assembleias de cidadãos” tem vindo a ganhar palco. No entanto, este debate não é recente na academia, como o demonstra a vasta literatura sobre o tema. O que se destaca do debate em curso é certamente o impulso dado por organismos internacionais para a realização de assembleias, levando assim a um aumento exponencial de experiências no mundo. Neste post, pretendo abordar alguns aspetos deste debate, visando clarificar as caraterísticas essenciais das assembleias de cidadãos. A razão principal deste post prende-se com a relativa novidade deste debate em Portugal e as potencialidades abertas por experiências recentes, como o Conselho de Cidadãos lançado pela Câmara Municipal de Lisboa, em 2022.

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Conferência ODSlocal’22 – Caminhos, Dinâmicas, Futuros

Por: Paulo Miguel Madeira, João Guerra, Madalena Duque dos Santos, Luísa Schmidt e João Ferrão

O projeto ODSlocal – Plataforma Municipal dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa que tem mobilizado os municípios e outras entidades locais para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos na Agenda 2030 das Nações Unidas. Entre os seus vários propósitos está a capacitação das comunidades locais para a prossecução do desenvolvimento sustentável, estimulando a construção participada e colaborativa de estratégias de sustentabilidade municipal e a sua monitorização, bem como a valorização e divulgação de boas práticas, projetos inovadores e resultados alcançados. Para isso, o projeto conta com uma equipa diversificada e interdisciplinar que inclui, para além de investigadores do OBSERVA/ICS-ULisboa, participantes de outras instituições: MARE-NOVA, CNADS e, ainda, a 2adapt, a empresa responsável pela conceção do portal ODSlocal (o sítio eletrónico da Plataforma, a qual presta serviços também por outras vias).

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O ICS na Noite Europeia dos Investigadores 2022: ‘Desafios da Sustentabilidade – Cidadãos em Transição’

Por: André Pereira, Joana Sá Couto e Inês Gusman

O Instituto de Ciências Sociais (ICS-UL) participou, no passado dia 30 de setembro, na Noite Europeia dos Investigadores (NEI). Esta é uma iniciativa dedicada a aproximar a comunidade académica e a sociedade civil, que acontece em simultâneo em diferentes cidades do país. Em Lisboa é promovida pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência e pela Universidade de Lisboa, em colaboração com a Universidade Nova de Lisboa representada pela Faculdade de Ciências e Tecnologia, o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril e a Câmara Municipal de Lisboa. Acontece entre as paredes do próprio museu, no Jardim Botânico de Lisboa, no Jardim do Príncipe Real e online. Em 2022, este evento consistiu num programa variado, incluindo visitas orientadas, Cafés de Ciência, espetáculos, para além das diversas atividades promovidas por universidades e centros de investigação. Dado o tema deste ano, “Ciência para todos – sustentabilidade e inclusão”, e à semelhança de edições anteriores, o ICS não poderia mais uma vez deixar de estar presente (Figura 1), especialmente tendo em conta o seu compromisso com as atividades de extensão universitária e de promoção do diálogo ciência-sociedade.

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COP 27 – premência, apreensão e esperança

Por: João Guerra

Talvez mais do que qualquer outra convenção, tratado, ou programa de governança global, desde que foi proposta e aprovada na Conferência da Terra (Rio 92), a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) conseguiu uma adesão quase-universal, envolvendo atualmente 198 signatários. A razão deste aparente sucesso resulta da apreensão que as alterações climáticas têm vindo a suscitar de norte a sul, bem como a premência de minorar os seus impactos a partir da origem. Ou seja, estabilizar as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, a um nível que evite consequências indesejáveis para o sistema climático. No entanto, como se pode deduzir dos resultados alcançados ao longo destas três décadas, mereceram menos concordância as formas e os meios para alcançar tal objetivo. Neste panorama, desde 1995, ano em que decorreu a primeira, em Berlim, têm vindo a ser promovidas as anuais “Conferências das Partes (COP)” que funcionam como espaços de discussão e elaboração de propostas práticas para implementar a convenção.

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Screening the Precarious Spaces of Home Across Europe

By: Anna Viola Sborgi

On September 19, 2022, a public screening entitled Espaços Precários da Habitação na Europa – Precarious Homes Across Europe took place at ICS-ULisboa. The screening showcased work of four emerging women filmmakers: Ayo Akingbade’s Dear Babylon (2019, United Kingdom), Leonor Teles’s Cães que Ladram aos Pássaros (2019, Portugal), Laura Kavanagh’s No Place (2019, Ireland and United Kingdom) and Margarida Leitão’s Gipsofila (Portugal, 2015). After watching the films, filmmaker Margarida Leitão and researchers Roberto Falanga and Mariana Liz joined me in an interdisciplinary conversation on cities, their inhabitants, gentrification and film. Members of the audience, which included participants in the Cinema e Ciências Sociais Summer School that was taking place at ICS-ULisboa in those very days, also asked questions and contributed to the discussion.

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Entre avanços e decepções, a COP26 define o Livro de Regras do Acordo de Paris

Por: André de Castro dos Santos

Passando por intensas e difíceis negociações, a COP26 foi encerrada com importantes definições sobre o combate às alterações climáticas pela comunidade internacional. O pacote adotado é um compromisso que reflete um delicado equilíbrio entre os interesses e as aspirações de quase 200 países sobre instrumentos centrais do regime internacional que rege os esforços globais contra a mudança do clima.

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A TRANSIÇÃO ALIMENTAR NA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA

Por: Rosário Oliveira e Mónica Truninger
ICS Food Hub

No contexto das mudanças globais e da recuperação pós-pandemia, o suprimento alimentar das cidades com produtos frescos e seguros é um dos tópicos fundamentais a ser levado em consideração em todo o mundo. Através do planeamento alimentar é possível responder a diversos objetivos europeus como os do Pacto Ecológico Europeu, da Estratégia do Prado ao Prato e da Estratégia Biodiversidade 2030, ou nacionais como os da Agenda de Inovação Territorial 2030.

Os Parques Agroalimentares constituem-se como oportunidades de operacionalização de estratégias alimentares de base territorial, numa estreita relação com o ordenamento do território regional e local, com impacto positivo na criação de dinâmicas urbano-rurais de proximidade, podendo integrar diferentes componentes do sistema alimentar e fornecer serviços multifuncionais de forma inovadora.

O ICS-ULisboa, através do Gi Ambiente, Território e Sociedade e do ICS Food Hub, apresenta um ciclo de três webinars dedicado à Transição Alimentar com o objetivo de juntar pessoas, refinar conceitos, partilhar experiências e promover o debate sobre a relevância de uma Rede de Agroparques na Área Metropolitana de Lisboa (AML) que cumpra metas ecológicas, económicas, inclusivas, de saúde e de bem-estar para a população metropolitana.

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“International Seminar on Environment and Society”: sociólogos em debate face à emergência ambiental

Por Ana Horta

A perceção pública dos desafios ambientais tem ganho uma dimensão enorme nos últimos tempos. Isto deve-se em grande medida à inclusão das alterações climáticas nas agendas mediáticas, com as suas repercussões em eventos climáticos extremos, assim como as suas vastas implicações na produção e consumo de energia e de alimentos ou ainda na perda de biodiversidade. Além disso, recentemente outros problemas ambientais têm também captado muita atenção a nível internacional, como é o caso da utilização de plásticos. Neste contexto, cidadãos, decisores políticos, agentes dos media, cientistas e outros têm-se movimentado de formas por vezes marcantes e inéditas, como aquando do reconhecimento do estado de emergência climática e ambiental pela ONU, pelo Parlamento e pela Comissão Europeia ou pelo Papa, pelo anúncio de políticas profundamente ambiciosas (como é o caso da descarbonização da economia) ou ainda do movimento internacional de estudantes em greve à escola pelo clima. Continuar a ler