Pegadas Digitais

Por: Ana Delicado e Jussara Rowland

Quando se discute a “pegada digital”, geralmente refere-se ao “rasto” que as nossas atividades online deixam. O que decidimos partilhar (ou que partilham de nós) – as nossas fotos e vídeos, os nossos comentários, os textos que escrevemos para websites, etc. – e a informação que plataformas digitais recolhem com, ou sem, o nosso consentimento – as pesquisas que fazemos, os nossos dados de geolocalização, o nosso historial de navegação, etc. As vantagens associadas a esta pegada são conhecidas. Não só funciona como “cartão-de-visita” ou arquivo digital pessoal, como permite uma maior personalização da nossa experiência na internet, através da seleção algorítmica de conteúdos considerados mais relevantes para o nosso perfil. Mais conhecidos ainda são os riscos que lhes estão associados: problemas de privacidade, publicidade intrusiva, roubo de identidade, fraude, hacking, discriminação, etc.

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Adaptação climática no setor da água: uma análise da aceitação social para reutilização

Por: Marcella Conceição

A seca de 2022 em Portugal foi um evento de grande relevância no cenário das mudanças climáticas no país, tendo este sido considerado o ano mais seco dos últimos 92 anos. A seca meteorológica durou cerca de nove meses, só atenuando em outubro do mesmo ano, quando as chuvas começaram. Segundo o boletim do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), seis ondas de calor e 80% do território em seca severa extrema e temperaturas mais altas foram as características do cenário climático deste ano para os portugueses. Nos últimos meses do ano, o aumento da pluviosidade trouxe 70% das chuvas, o que aliviou as condições de seca em todo o país.

Evidentemente, este tipo de cenário tem interferências diretas no ciclo da água, tanto para o abastecimento das cidades, como para a agricultura (casos de escassez).  No sentido de promover a adaptação a estes eventos, a reutilização de água tratada (ApR – Água para Reutilização) vem sendo adotada na rega dos espaços verdes em Lisboa, onde a construção de uma rede para reutilização está em andamento e um dos três pilotos previstos para a cidade já se encontra em funcionamento. A reutilização de águas residuais é uma prática que tem vindo a se estabelecer nos países europeus como solução para promover a reintegração do recurso no ciclo de utilização. Países do sul europeu já vêm estabelecendo a reutilização como forma de assegurar não só maior disponibilidade de água para um território seco, mas também garantir uma economia circular e sustentável no setor. 

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COP 27 – premência, apreensão e esperança

Por: João Guerra

Talvez mais do que qualquer outra convenção, tratado, ou programa de governança global, desde que foi proposta e aprovada na Conferência da Terra (Rio 92), a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) conseguiu uma adesão quase-universal, envolvendo atualmente 198 signatários. A razão deste aparente sucesso resulta da apreensão que as alterações climáticas têm vindo a suscitar de norte a sul, bem como a premência de minorar os seus impactos a partir da origem. Ou seja, estabilizar as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, a um nível que evite consequências indesejáveis para o sistema climático. No entanto, como se pode deduzir dos resultados alcançados ao longo destas três décadas, mereceram menos concordância as formas e os meios para alcançar tal objetivo. Neste panorama, desde 1995, ano em que decorreu a primeira, em Berlim, têm vindo a ser promovidas as anuais “Conferências das Partes (COP)” que funcionam como espaços de discussão e elaboração de propostas práticas para implementar a convenção.

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Prevenção e mitigação de incêndios e participação pública

Por: Ana Delicado, Luísa Schmidt e Filipa Soares

2022 voltou a ser um ‘annus horribilis’ no que respeita aos incêndios. Até ao final de agosto, segundo o ICNF, já tinham ardido em Portugal mais de 100 mil hectares, mais de metade dos quais em povoamentos florestais. Este valor representa um aumento de 36% em relação à média anual dos 10 anos anteriores. Dos quase 10.000 incêndios rurais registados, 16 foram de grande dimensão, consumindo mais de mil hectares. Em termos de área ardida, os distritos mais afetados foram Guarda, Vila Real e Leiria (Figura 1). Um dos casos mais graves em termos de perda de biodiversidade e afetação de recursos naturais foi o incêndio no Parque Natural da Serra da Estrela, tendo consumido mais de 22 mil hectares, ou seja, cerca de 25% da sua área num único verão – o equivalente a uma área superior a duas vezes o concelho de Lisboa (que tem cerca de 10 mil hectares).

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BIODIVERSIDADE 2030. NOVA AGENDA PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE EM CONTEXTO DE ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS EM PORTUGAL

Por: Rosário Oliveira e João Mourato

A biodiversidade é fundamental, pois dela depende a regulação de processos essenciais à vida como a composição química da atmosfera, do solo, da água, e a capacidade de produção agrícola e florestal. A sua perda afeta inevitavelmente a espécie humana, pelo que a sua conservação é crucial também para a nossa sobrevivência.

Contudo, as estratégias de conservação internacionais, europeias e nacionais não têm sido capazes de travar e inverter a perda alarmante de biodiversidade nas últimas décadas, sendo, assim, necessário ir além das tradicionais medidas de conservação (ex. gestão de áreas protegidas, proteção de espécies ameaçadas, controlo de espécies invasoras).

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PilotSTRATEGY Captura e Armazenamento de Carbono em Portugal

Por: Jussara Rowland, Ana Delicado, Luísa Schmidt

As alterações climáticas são um problema “malvado” (wicked, na terminologia inglesa). Complexo, de difícil resolução, não há uma “bala mágica” que o consiga travar. Da mudança de comportamentos individuais à transformação dos sistemas de produção e consumo globais, muitas são as propostas para prevenir um aumento catastrófico da temperatura no planeta, como múltiplas são as respostas tecnológicas que podem contribuir para isso. Segundo o IPCC e a Comissão Europeia, a captura e armazenamento geológico de carbono é uma das respostas possíveis,  particularmente relevante para mitigar as emissões carbónicas de algumas indústrias cujos processos industriais implicam a produção de CO2. O CO2 é capturado nas grandes fontes emissoras industriais ou de produção de energia, comprimido em estado líquido e transportado por gasoduto, navio ou comboio para ser injetado no subsolo, geralmente a profundidades superiores a 1 km. O armazenamento é feito em formações geológicas como aquíferos salinos profundos, reservatórios esgotados de petróleo ou gás, ou em camadas de carvão não-exploráveis.

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O Perigo da História Única das Alterações Climáticas

Por: Fronika de Witt

Quando rejeitamos a história única, quando percebemos que nunca há uma história única sobre qualquer lugar, recuperamos uma espécie de paraíso.

Chimamanda Adichie: O perigo de uma história única. TED Talk 2009.

A escritora e contadora de histórias nigeriana Chimamanda Adichieto tem vindo a alertar para o perigo das histórias únicas. As histórias únicas, segundo ela, são as perceções excessivamente simplistas e, por vezes, falsas que formamos sobre pessoas e lugares. Estas dependem da perspetiva do narrador e criam estereótipos e imagens incompletas. Outro problema das histórias únicas é onde começam; começar antes ou depois do processo de colonização, por exemplo, muda completamente uma história e a sua dinâmica de poder.

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Podcasting climate change between tragedy and comedy

By: Enrique Pinto-Coelho

When I was a kid, probably around the age of my 11-year-old son, I sent a drawing of a flying Superman – copied from a piggy bank – to my school’s magazine. I still remember the excitement of reading my name under the full-page picture the day it was published, a mixture of pride and delight that I only felt again many years after, when I signed my first journalistic article in a (paid) publication.

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Projeto Europeu SharedGreenDeal: novas ferramentas das Ciências Sociais e Humanas para uma mudança transformadora

Por: Mónica Truninger

O projeto Europeu SharedGreenDeal – Social sciences & Humanities for Achieving a Responsible, Equitable and Desirable GREEN DEAL (Horizon 2020 RIA, financiado com cerca 5 milhões de euros para cinco anos), no qual alguns membros do GI SHIFT – Grupo de Investigação Ambiente, Território e Sociedade do ICS-ULisboa estão envolvidos, iniciou as suas atividades a 1 de Fevereiro de 2022. É coordenado por Chris Foulds e Rosie Robison da Universidade Anglia Ruskin, sediada em Cambridge no Reino Unido. No ICS, o projeto é liderado por Mónica Truninger, constando também da equipa Luísa Schmidt, Ana Delicado, João Mourato e Rosário Oliveira.

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Seis temas para 2022 nos seis anos do Blogue SHIFT

Por: Alexandre Silva, Carla Gomes, Joana Sá Couto e Mariana Liz

A 5 de Janeiro de 2016 foi publicado o primeiro post do Blogue ATS – agora rebaptizado Blogue SHIFT. Em Janeiro de 2019, o livro Reflexões sobre Ambiente, Território e Sociedade marcou os seus primeiros três anos. O presente post colectivo, dos actuais editores do Blogue SHIFT, está imbuído de um espírito semelhante. Por um lado, oferece uma breve reflexão sobre o último ano do blogue, marcando, igualmente, o seu sexto aniversário. Por outro, olha para o futuro, lançando um desafio aos investigadores e investigadoras que venham a partilhar os seus textos e ideias nesta plataforma, que se quer cada vez mais aberta e anti-dogmática, ajustável às incertezas do nosso tempo.

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