Regeneração Urbana: Ontem, Hoje e Amanhã

Por: Mafalda Nunes

A regeneração urbana tornou-se um conceito popular nas políticas urbanas a nível global, como forma de responder aos desafios e ‘crises’ urbanas que vão sendo identificados nas cidades contemporâneas. Das questões espaciais (qualidade do edificado e espaços públicos), às sociais (níveis de educação, emprego, coesão social), económicas (oportunidades para o comércio, negócios, turismo) e ambientais (qualidade do ar e dos espaços verdes), surgem várias estratégias com enfoques distintos sob o ‘chapéu’ comum da regeneração urbana.

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COP 27 – premência, apreensão e esperança

Por: João Guerra

Talvez mais do que qualquer outra convenção, tratado, ou programa de governança global, desde que foi proposta e aprovada na Conferência da Terra (Rio 92), a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas) conseguiu uma adesão quase-universal, envolvendo atualmente 198 signatários. A razão deste aparente sucesso resulta da apreensão que as alterações climáticas têm vindo a suscitar de norte a sul, bem como a premência de minorar os seus impactos a partir da origem. Ou seja, estabilizar as concentrações de gases com efeito de estufa na atmosfera, a um nível que evite consequências indesejáveis para o sistema climático. No entanto, como se pode deduzir dos resultados alcançados ao longo destas três décadas, mereceram menos concordância as formas e os meios para alcançar tal objetivo. Neste panorama, desde 1995, ano em que decorreu a primeira, em Berlim, têm vindo a ser promovidas as anuais “Conferências das Partes (COP)” que funcionam como espaços de discussão e elaboração de propostas práticas para implementar a convenção.

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Co-Produção: A Inteligência Humana ao Serviço das Nossas Cidades

Por: Diogo Martins

Estamos sempre a falar em cidades mais inteligentes, com sensores, inteligência artificial, com software que irá gerir tudo ao pormenor, com tecnologia que nós, hoje, não conhecemos. Mas em que medida toda esta tecnologia traz benefícios às pessoas que habitam e frequentam as cidades? E estaremos a tirar partido da inteligência dessas pessoas para melhorar as nossas cidades?

A minha proposta é explorarmos formas de voltar às pessoas, sem deixarmos de evoluir e usar tecnologia. A co-produção é ainda pouco utilizada no nosso dia-a-dia e por isso não vemos efeitos práticos disso nas nossas cidades com a frequência que é desejável.

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Participatory Rural Appraisal for the municipality of Odemira – The characterisation of a rural environment

Por: Kaya Schwemmlein , Lanka Horstink & Miguel Encarnação

Source: Project logo.

Drawing upon the challenge of creating inclusive, regenerative, and sustainable food systems, it is very important to address not only questions related to sustainable agricultural practices, but also issues regarding power asymmetries that can be found along the supply chain.

The European Union (EU), in its “Farm to Fork Strategy”, maintains that it is vital to “preserve affordability of food while generating fairer economic returns, fostering competitiveness of the EU supply sector and promoting fair trade”. Nonetheless, several studies, journalistic pieces and other EU documents (such as the EU´s Inception Impact Assessment) have already clearly acknowledged the existing challenge of imperfect competition : one that creates disparities in market power across the entire food chain, from production to retail.

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Uma análise crítica da inovação na Agricultura 4.0

Por: Lanka Horstink

A inovação tecnológica tem ganho preponderância enquanto solução principal para os problemas da sustentabilidade da agricultura. O conceito “Agricultura 4.0” reúne abordagens como a agricultura de precisão, agricultura inteligente, agricultura digital, agricultura vertical, e bioeconomia sustentadas em tecnologias recentes como a robótica, inteligência artificial, blockchain, internet das coisas, edição genética, proteínas sintéticas e nanotecnologia.

A Agricultura 4.0, enquanto expoente de uma 4ª revolução industrial, pretende uma “fusão de tecnologias que esbate as linhas entre as esferas física, digital e biológica.” São exemplos desta fusão, a biologia sintética que faz crescer carne a partir das células estaminais extraídas dos fetos de vacas e os organismos geneticamente modificados pela tecnologia CRISPR/Cas, que promete rapidez, facilidade e custos reduzidos na eliminação/alteração de genes indesejados. Estas tecnologias só foram possíveis graças aos avanços na computação que permitem, por exemplo, descodificar e digitalizar genomas inteiros numa questão de dias.

Foto de James Baltz no site Unsplash
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Lisboa verde oriental – entre parques, hortas e corredores verdes

Por: David Travassos

Foto 1 – A zona oriental de Lisboa oferece uma coleção diversificada, e até surpreendente, de lugares e áreas verdes (exemplo do Parque do Vale do Silêncio). Fotografia do autor.

A zona oriental de Lisboa oferece uma colecção diversificada, e até surpreendente, de lugares e áreas verdes propícias ao lazer e contacto com a natureza em espaço urbano. São múltiplos ambientes, alguns ainda pouco conhecidos pela maioria dos lisboetas, incluindo lugares marcados pelas memórias do passado rural que caracterizou este lado da cidade até meados do século XX. Este território tem vindo a beneficiar da abertura de uma série de novos espaços verdes, parques hortícolas, ciclovias e percursos pedonais, incluindo a requalificação ambiental e paisagística de áreas degradadas. Somam-se ainda novos quiosques e esplanadas, parques infantis, equipamentos e circuitos de manutenção, que possibilitam um melhor usufruto destas áreas.

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Progresso moral e “o fim da história”

Por: João Graça

I fully subscribe to the judgment of those writers who maintain that of all the differences between man and the lower animals, the moral sense or conscience is by far the most important.”

Charles Darwin (1871), em The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex

No final do século passado, Francis Fukuyama, cientista político, declarou “O Fim da História e o Último Homem”. Em síntese, o autor defendia que a disseminação mundial das democracias liberais e a abertura global dos países ao mercado livre capitalista assinalavam o final dos processos de evolução sociocultural do ser humano. De acordo com esta ideia, a humanidade estaria em vias de atingir o apogeu da organização social e económica, a que correspondia o neoliberalismo. Embora os acontecimentos globais do início do séc. XXI possam colocar em causa esta perspetiva (entretanto já revista pelo próprio autor), propomos transportar para este texto a noção de “estádio último da evolução sociocultural”, e aplicá-la à ideia de progresso moral.

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“Aqueles pontos brancos são pássaros”

Por: Pedro Figueiredo Neto

“—Aqueles pontos brancos são os pássaros que aquele senhor está a tentar ouvir, mas que nós não deixamos”.
“—Ele está a gravar! Está a ouvir os pássaros! (…) — As aves migratórias…?”.
“— Está aqui o senhor a ouvir os animais e nós a fazer barulho.”

Estas e outras frases povoam a paisagem sonora acima disponibilizada, captada na ilha das Flores entre a Caldeira Rasa e a Caldeira Funda, numa manhã cinzenta de Junho do corrente ano. Estes comentários revelam o eco da minha presença naquele lugar, que na ausência de explicação — “quem será este senhor? que estará ele a gravar ali, sozinho?” —, surgiram como hipóteses a um grupo de cerca de trinta turistas, entre os 50 e os 70 anos, que giravam pela ilha distribuídos em três mini-bus. Eu não estava necessariamente a tentar captar os ditos pássaros, os tais pontos brancos, cujo nome também desconheço. Tampouco sei se as aves a que se referiram, outras ainda que não as dos pontos brancos, eram de facto aves migratórias. Essa fauna estava demasiado longe da vista e também fora do alcance imediato do meu equipamento de gravação para que os pudesse isolar. Captar esta massa humana que acabou por interromper as conversas dos pássaros foi um acaso.

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Solo municipal e o Programa de Renda Acessível de Lisboa

Por : Sónia Alves

Em muitas cidades portuguesas e europeias a escassez de terrenos urbanos para construção, isto é, de terrenos total ou parcialmente urbanizados que, como tal, estão afetos em plano de ordenamento do território à edificação, tem sido identificada como o principal obstáculo à provisão de habitação acessível às famílias de rendimentos médios e baixos.

Porque a existência destes terrenos (em vias de ou devidamente infraestruturados) a preços económicos é fundamental para a concretização de opções estratégicas dos municípios, incluindo as de provisão de habitação abaixo dos valores de mercado, muitas cidades têm optado por desenvolver políticas ou iniciativas fundiárias. Exemplos foram, em Portugal, o apoio às cooperativas de habitação (que foram, no entanto, incapazes de proteger a habitação produzida com subsídio público da especulação em vendas posteriores); ou o apoio à construção de habitação para arrendamento sem fins lucrativos, como se observa na Dinamarca. Na Alemanha, os privados recebem financiamento a fundo perdido para apoiar a construção e facilitar o arrendamento de habitação a rendas acessíveis às famílias das classes média e baixa por um determinado número de anos. Quando termina esse período a habitação entra no mercado de habitação não regulado.

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A miragem da Agenda 2030? Um enfoque a partir do ‘Africa SDG Index’

Por: João Guerra

A COVID 19 teve impactos imediatos que desembocaram numa crise humanitária e económica, mas também impactos de médio e longo prazo ainda difíceis de contabilizar. Do ponto de vista da Agenda 2030, estes impactos travam a prossecução dos dezassete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em todo o mundo e, em particular, em contextos geográficos onde, já antes da crise pandémica, nos deparávamos com situações socioambientais particularmente pungentes. Neste panorama, a proposta, ainda em discussão, de um plano de “transição e investimento verde” entre parceiros africanos e europeus, foi apresentada pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, em parceria com o Banco Europeu de Investimento. A gravidade da situação, no entanto, é reconhecidamente complexa e, de longe, ultrapassa questões de cariz meramente económico. Daí que os resultados do relatório de 2020 do Africa SDG Index and Dashboards apontem para a urgência de uma rápida intervenção da comunidade global que, com recursos e abordagens transversais bottom-up, salvaguarde as hipóteses de sucesso da Agenda 2030 nos países africanos.

Como consequência da pandemia estima-se que, em África, cerca de sessenta milhões de pessoas venham a ser empurradas para a pobreza (ODS 1), a insegurança alimentar quase duplique (ODS 2), cerca de cento e dez milhões de crianças e jovens vejam reduzido o acesso a uma educação de qualidade (ODS 4), os sistemas de saúde colapsem e se mostrem incapazes de acudir às necessidades das populações (ODS 3), deixando de fora os mais desfavorecidos e, em particular, as mulheres (ODS 5). Poderíamos continuar a elencar a agudização de situações que, grosso modo, correspondem a ameaças a cada um dos ODS, mas talvez possamos resumir as restantes aos efeitos nas economias locais/nacionais e às suas consequências no emprego, na receita interna, nas dívidas soberanas, na redução das remessas, na assistência ao desenvolvimento e – por último, mas não em último – ao adiamento de medidas de proteção ambiental, que ameaça hipotecar ainda mais o futuro de comunidades e nações.

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