Como foi o 1.º Fórum da Habitação – As Estratégias Locais de Habitação: A perspetiva dos municípios

Por: Caterina Di Giovanni

No dia 26 de março, teve lugar o 1.º Fórum da Habitação – As Estratégias Locais de Habitação: A perspetiva dos municípios – no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Este evento, já anunciado num post anterior, enquadra-se nas atividades do projeto LOGO – A governança local das políticas de habitação. Uma investigação das estratégias locais de habitação (2023-2026). O foco principal do projeto é a dimensão local das políticas de habitação, investigando especificamente o impacto das Estratégias Locais de Habitação (ELH) e das Cartas Municipais de Habitação (CMH). Neste 1.º Fórum, focámo-nos sobre as ELH, tendo como objetivos: aprender com a experiência dos técnicos municipais, para ajudar a melhorar as políticas de habitação a nível local e central; criar um espaço de discussão horizontal, de aprendizagem mútua e de boas práticas entre os municípios.

O que se segue é a apresentação (sintética) do que foi o Fórum, com o intuito de dar resposta às “utilidades das ciências sociais”: este tipo de evento ajuda a debater e delinear o que foi feito e o que pode ser feito de maneira diferente, e faz-nos refletir sobre o impacto ou a extensão das nossas investigações enquanto cientistas sociais.

A organização do Fórum baseou-se numa programação tripartida em sequência: duas sessões fechadas com os técnicos municipais da Área Metropolitana de Lisboa (AML) e uma aberta ao público sob forma de mesa-redonda com peritos que trabalham com ELH.

Convidámos todos os 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa e o Município de Azambuja (parte da AML até 2004), e participaram 9 municípios.

A primeira sessão do dia foi constituída por um workshop organizado segundo o modelo do chamado world café: os participantes foram divididos em grupos por mesa temática. Cada mesa tinha cerca de 35 minutos de debate e, após esse tempo, os grupos passaram para uma nova mesa, repetindo-se o processo até que cada grupo tivesse participado em todas as mesas.

As três mesas temáticas abordaram temas relacionados com as políticas locais da habitação:

  • Mesa 1 (“As ELH e as Câmaras Municipais”), onde se procurava perceber como e em que medida é que a introdução das ELH mudou a maneira de funcionar das Câmaras Municipais;
  • Mesa 2 (“Os atores das políticas locais”), onde se procurava perceber quais os atores que participaram, junto com as Câmaras, na elaboração das ELH e que tipo de relação se desenvolveu entre eles (Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana-IHRU, consultorias, associações locais, juntas de freguesias, etc.);
  • Mesa 3 (“O impacto das ELH sobre as carências habitacionais locais”), onde se procurava perceber quais impactos que as ELH tiveram sobre as carências habitacionais dos municípios.
Figura 1. Mesas temáticas com técnicos municipais da AML. Autor: Roberto Falanga.

Seguindo a metodologia “Rosas, Espinhos e Brotos” (RTB – Rose, Thorn, Buds) — na qual são identificados resultados positivos, criticidades e rebentos para o futuro —, os participantes, guiados pelos facilitadores do projeto, preencheram os post-its com conteúdos ligados à própria experiência, colocando-os de acordo com a metodologia referida.

Figura 2. “Rosas, Espinhos, Brotos” na mesa temática 1. Autor: Marco Allegra.

Após esse exercício, foi pedido aos participantes que dessem as suas respostas a um questionário instantâneo, dividido em três partes:

  1.  Os participantes deviam dar a sua opinião relativamente às seguintes afirmações (onde 1=discordo completamente; 5=concordo completamente)

·       A experiência da minha Câmara com a ELH trouxe novas ideias, novas competências, novos modelos organizativos.

·       A introdução das ELH mudou de forma significativa a relação de trabalho entre a minha Câmara e o IHRU/Estado central.

·       A elaboração da ELH na minha Câmara despertou uma dinâmica de participação por parte de atores diferentes (moradores, sociedade civil, juntas de freguesia, etc.).

·       A implementação da ELH irá resolver as principais carências habitacionais que afetam o território do meu concelho.

Figura 3. Resultados do questionário (1.ª parte) aos técnicos da AML. Autor: Marco Allegra.

2. Os participantes tinham de escrever que palavras utilizariam para descrever a sua experiência em termos de ELH (uma palavra x 5 campos).

Figura 4. Resultados do questionário (2.ª parte) aos técnicos da AML. Autor: Marco Allegra.

3. Os participantes tinham de escrever uma resposta à seguinte reflexão: “Se eu fosse responsável pelas Políticas de Habitação, a minha prioridade seria…”.

Figura 5. Resultados do questionário (3.ª parte) aos técnicos da AML. Autor: Marco Allegra.

O programa seguiu com a sessão plenária, onde foram debatidos os resultados do questionário e os assuntos que surgiram das mesas temáticas. Após o resumo de pontos fortes, fraquezas e oportunidades (Rosas, Espinhos e Brotos) do processo das ELH nos municípios da AML, foi estabelecida uma relação entre os principais tópicos, como evidenciado na imagem abaixo.

Figura 6. Síntese dos tópicos na sessão plenária com os técnicos da AML. Autora: Caterina Di Giovanni.

Finalmente, o Fórum abriu as portas ao público na sessão da mesa-redonda, constituída por Margarida Cavaleiro (IHRU), Maria João Freitas e Alessandro Colombo (consultores), Filipa Cabrita (cooperativa Minga) e Sílvia Jorge (investigadora do CiTUA/IST-ID).

Figura 7. Oradores da mesa-redonda aberta ao público. Autora: Caterina Di Giovanni.

O que aprendemos com este Fórum?

Antes de mais, é necessário realçar que se trata de analisar um processo em curso, porque a execução das ELH está em andamento em todas as Câmaras, estando ligado ao programa 1.º Direito – Programa de Apoio ao Acesso à Habitação, com financiamento do PRR (até 2026). Apesar da diversidade das carências e dos territórios dos municípios, a dificuldade de implementação das ELH é comum a todos.

Algumas breves notas do que a elaboração da ELH trouxe, de acordo com a perspectiva dos Municípios:

(Rosas)

– Retoma da atenção política e técnica sobre a habitação (N.R. última vez com o PER-Programa Especial de Realojamento);

– Centralidade da habitação nos municípios;

– Conhecimento dos técnicos e atualização do diagnóstico das carências no território.

(Espinhos)

 – Antes do PRR, as ELH eram inviáveis por falta de dinheiro; com o PRR, o problema já não é o dinheiro, mas sim o tempo curto;

– Prazos apertados para a elaboração das candidaturas ao IHRU;

– Pouco envolvimento de outros atores e participação pública.

(Brotos)

– Intersetorialidade nos serviços da Câmara, em alguns casos serviços criados ad hoc;

– A CMH pode aprender com as fragilidades que surgiram com a elaboração da ELH à pressa;

– Papel da AML como ator intermediário entre o Estado e os municípios.

Assim foi o 1.º Fórum da Habitação do projeto LOGO, mas não será o único! Estamos já a pensar no próximo, novamente com os técnicos da AML, e outros virão de outras partes do país. Stay tuned!


Caterina Di Giovanni é arquiteta e doutorada em Estudos Urbanos (ISCTE-FCSH NOVA). É investigadora júnior no ICS-ULisboa no âmbito do projeto LOGO. Apoiante da  interdisciplinaridade nos Estudos Urbanos, as suas áreas de interesse abordam habitação pública, políticas de habitação e estudos comparativos na Europa do Sul. caterina.digiovanni@ics.ulisboa.pt

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