“We are what we eat”, but do we know what we are eating?

By: Nicoletta Moschini

From beasts we scorn as soulless,
in forest, field and den,
the cry goes up to witness
the soullessness of men.”
M. Frida Hartley

We are all eyewitnesses to a dystopian historical period in which there are more overweight than undernourished people. We prefer to consume water in plastic bottles rather than tap water. Entire geographic areas of Europe, especially southern Portugal, Italy, and Spain, are at high risk of desertification, and globally, 2 billion people have difficult access to safe water sources. Yet, the global average water footprint to produce 1 kilogram of beef is 15,415 liters, meaning 2,400 liters to make a single hamburger – the equivalent of about 3 months of showers. Worldwide, 900 million people are in a state of severe food insecurity. Yet, the world’s cattle require an amount of calories equivalent to the caloric needs of 8.7 billion humans. Moreover, our Planet’s habitable land is mainly used for agriculture, with nearly 80% of farmland linked to meat and dairy production. Yet, livestock produces less than 20% of the world’s supply of calories.

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Gestão é tudo (SQN)

Por: Daniel Roedel

No Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, é comum utilizarmos ao final de uma afirmação a expressão “só que não” (SQN). Trata-se de uma ironia que nega a certeza anterior e cria uma piada. Utilizei a expressão no título para abordar o tema da gestão que desde há alguns anos saiu dos estudos e debates da academia e das ações empresariais e entrou no cotidiano das pessoas em diversas localidades. Exemplos podem ser encontrados na entrevista do treinador de futebol em Portugal, que orgulhosamente declara que fez a gestão do banco de reservas; da terapeuta que destaca a necessidade da gestão das emoções; do atleta que enaltece a gestão do esforço. Associar a palavra gestão aos temas em questão parece indicar seriedade e profissionalismo, mesmo que não se saiba bem o que ela significa.

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A REDE METROPOLITANA DE PARQUES AGROALIMENTARES. READY TO GO.

Por: ICS FOOD HUB

1. Os sistemas alimentares no centro da agenda política

Os sistemas alimentares têm vindo a ganhar destaque na agenda política internacional como resposta ao contexto global de crise económica, climática, energética e pandémica. Olhar para a alimentação de forma sistémica permite, simultaneamente, atuar sobre a saúde humana, ambiental e económica do planeta. Neste sentido, as Nações Unidas organizaram, em 2021, a Cimeira dos Sistemas Alimentares, em linha com a Estratégia do Prado ao Prato no âmbito do Pacto Ecológico Europeu para a próxima década.

Caminhar neste sentido pressupõe que possamos entender o alimentar para além do alimento, a alimentação para além do setor de produção agroindustrial e, em particular, ampliar o impacto do planeamento alimentar do nível local para escalas mais alargadas, muito com base em redes de cidades que, cada vez mais, prosseguem abordagens neste âmbito, tanto na Europa como a nível global. Este objetivo decorrerá das decisões tomadas a favor da transição alimentar, o que implica intervir num sistema multi-ator complexo, de base territorial, que relaciona o produtor com o consumidor de alimentos, sempre numa ótica de sustentabilidade e de valorização dos serviços dos ecossistemas (Fig. 1).

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Progresso moral e “o fim da história”

Por: João Graça

I fully subscribe to the judgment of those writers who maintain that of all the differences between man and the lower animals, the moral sense or conscience is by far the most important.”

Charles Darwin (1871), em The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex

No final do século passado, Francis Fukuyama, cientista político, declarou “O Fim da História e o Último Homem”. Em síntese, o autor defendia que a disseminação mundial das democracias liberais e a abertura global dos países ao mercado livre capitalista assinalavam o final dos processos de evolução sociocultural do ser humano. De acordo com esta ideia, a humanidade estaria em vias de atingir o apogeu da organização social e económica, a que correspondia o neoliberalismo. Embora os acontecimentos globais do início do séc. XXI possam colocar em causa esta perspetiva (entretanto já revista pelo próprio autor), propomos transportar para este texto a noção de “estádio último da evolução sociocultural”, e aplicá-la à ideia de progresso moral.

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“Aqueles pontos brancos são pássaros”

Por: Pedro Figueiredo Neto

“—Aqueles pontos brancos são os pássaros que aquele senhor está a tentar ouvir, mas que nós não deixamos”.
“—Ele está a gravar! Está a ouvir os pássaros! (…) — As aves migratórias…?”.
“— Está aqui o senhor a ouvir os animais e nós a fazer barulho.”

Estas e outras frases povoam a paisagem sonora acima disponibilizada, captada na ilha das Flores entre a Caldeira Rasa e a Caldeira Funda, numa manhã cinzenta de Junho do corrente ano. Estes comentários revelam o eco da minha presença naquele lugar, que na ausência de explicação — “quem será este senhor? que estará ele a gravar ali, sozinho?” —, surgiram como hipóteses a um grupo de cerca de trinta turistas, entre os 50 e os 70 anos, que giravam pela ilha distribuídos em três mini-bus. Eu não estava necessariamente a tentar captar os ditos pássaros, os tais pontos brancos, cujo nome também desconheço. Tampouco sei se as aves a que se referiram, outras ainda que não as dos pontos brancos, eram de facto aves migratórias. Essa fauna estava demasiado longe da vista e também fora do alcance imediato do meu equipamento de gravação para que os pudesse isolar. Captar esta massa humana que acabou por interromper as conversas dos pássaros foi um acaso.

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Nós e a Internet: as perceções dos cidadãos sobre os desafios da sociedade digital

Por: João Estevens, Jussara Rowland, Ana Delicado

Os impactos das profundas transformações em curso são sentidos nas formas de participação cívica, no desenvolvimento de comunidades virtuais, na interação com serviços públicos, no trabalho, entre outros. Estes impactos também reforçam as clivagens sociais e fazem surgir novos desafios associados à gestão de dados, à inteligência artificial ou às interações interpessoais.

O tema da internet é multidimensional, apresentando uma governança complexa. No início do século XXI foi criada uma estrutura internacional para promover o diálogo político entre stakeholders (governos, setor privado, sociedade civil), o Internet Governance Forum. O IGF realiza reuniões anuais e, apesar de não ter autoridade para tomar decisões, formula recomendações sobre a governança da internet. Discute-se atualmente como deverá evoluir o IGF de forma a ter uma atuação mais efetiva e democrática na resposta aos desafios digitais. É este o contexto do projeto internacional Nós e a Internet, promovido pela Missions Publiques por solicitação do Painel de Alto Nível das Nações Unidas para a Cooperação Digital . Em 2020 realizaram-se uma consulta mundial a stakeholders e um Diálogo Global de Cidadãos, que teve lugar em mais de 70 países, tendo como objetivo recolher as opiniões de cidadãos sobre como deve ser regulada e governada a internet, reduzidos os seus riscos e incrementados os seus benefícios. O ICS-ULisboa participou neste projeto, colaborando na moderação do debate mundial de stakeholders e organizando o Diálogo de Cidadãos em Portugal.

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A apresentação de produtos alimentares de origem rural em lojas especializadas de Aveiro, Lisboa e Porto

Por: Alexandre Silva, Elisabete Figueiredo, Monica Truninger

Em Novembro apresentámos neste blogue um post com os resultados preliminares de um inquérito por questionário, conduzido no âmbito do projeto STRINGS  a lojas especializadas no comércio de produtos agroalimentares de proveniência rural localizadas em Aveiro, Lisboa e Porto. No quadro do projeto foram também realizadas 30 entrevistas a proprietários ou gerentes de lojas e uma parte do guião para essas entrevistas dizia respeito à organização do espaço interior e das montras das lojas.

A disposição no espaço e a visibilidade dos produtos alimentares é tema de investigação sobre os comportamentos dos consumidores, geralmente com o objetivo avaliar a eficácia dessa disposição na promoção de vendas. Uma outra possível perspetiva de análise considera a disposição dos alimentos nas lojas enquanto prática, no sentido de compreender que motivações têm os responsáveis pelas lojas para a decoração das montras. É nesse sentido que apontamos agora algumas pistas sobre o estudo sociológico deste tema a partir dos resultados preliminares do exame das entrevistas, identificando algumas possíveis dimensões de análise para um estudo mais centrado neste aspeto da venda alimentar.

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Covid 19: Is sustainability gaining importance despite increasing poverty?

By: Alexandra Bussler

Worldwide, the COVID pandemic has unleashed a new poverty wave affecting millions of people. In Portugal alone, in 2020 more than 900 000 job losses were recorded and 37% more people are searching for employment than in 2019. People with jobs that otherwise secured a reasonable living standard are now unable to make ends meet. The reliance on food aid raised by 15% and food banks are overflown by people. Many that had never imagined to have to resort to food aid are reluctant to admit this new situation of poverty, suggesting that the actual poverty crisis is even more dramatic than what these numbers show.

However, there seems to be a positive development that can be observed during the Covid pandemic. The uncertainty about the future and the loss of control that many are experiencing in these times of crisis can create conditions for change and transformation. In fact, sustainability concerns and community-based initiatives are gaining importance and attention in midst of this hardship. In Portugal, the demand for food baskets and local food providers has been increasing steadily since the onset of the pandemic. These times of uncertainty are also windows of opportunity for new pathways. Therefore, we have to take this situation seriously in order to bring the sustainability transition forward, and to make our food systems healthier, more just, more resilient and more sustainable.

This trend has also been observed in an online survey made to the consumers of the Fruta Feia food cooperative in Lisbon in October 2020. Fruta Feia is a 2013-born initiative aiming to reduce the food waste problem in Portuguese cities in collaboration with about 250 local smallholder farmers, many of them organic farming producers. Today, Fruta Feia brings ‘ugly’ fruits and veggies at social prices to the tables of 6.600 families and already saved 2.760 tons of food from the bins while creating sustainable jobs in their 12 delegations all over Portugal. The establishment of these alternative and sustainable markets even yielded them the 2020 European LIFE prize for the Environment.

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Is the Paris Agreement targeting the right emissions?

By: Jiesper Pedersen

Global negotiations and policies for climate mitigation, i.e., reducing GHG emissions, have historically been based on projections of what each country is expected to emit in the future, the emission scenarios compiled by the IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change).  However, it is crucial to have a critical outlook on how these scenarios are calculated and reflect historical emissions and socioeconomic trends. Additionally, they may create imbalances between regions and countries in the world. The reality of the global economic changes, and therefore we should regularly reassess the scientific foundations of climate policy to avoid injustices.

A key issue is that country emissions have been calculated based on the total emissions of a country, including, for instance, industrial production, even when most of the production is exported. It is easy to understand how this creates distortions between countries such as the United States, the EU member states, and China – ‘the world’s factory’. In practice, much of the ‘carbon emissions’ have been outsourced to developing countries for decades.

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A venda de produtos alimentares de origem rural em lojas especializadas de Aveiro, Lisboa e Porto

Por: Alexandre Silva, Elisabete Figueiredo, Monica Truninger

O termo quality turn tem sido usado para designar uma crescente insatisfação dos consumidores com os produtos de origem industrializada e de venda em massa, e um aumento de procura e criação de soluções de diferenciação ao longo da cadeia de abastecimento. No domínio alimentar essa transição tem incidido em pontos tão diferenciados como os métodos de produção e transformação alimentar, a dimensão das cadeias de distribuição, e mesmo os formatos de retalho nos quais os produtos são vendidos ao consumidor. Em Portugal essa “viragem” tem-se manifestado na procura de produtos alimentares em categorias diversas como o gourmet ou o biológico. Além disso, tem ganho visibilidade nos últimos anos uma multiplicação da oferta retalhista urbana de pequena dimensão, sobretudo no sector alimentar. Estas são algumas das transformações que têm sido analisadas no quadro do projeto STRINGS, apresentado num texto anterior deste blogue, designadamente no que respeita às potenciais oportunidades que estas transformações podem abrir para a criação e reativação de ligações entre o rural e o urbano, e os seus possíveis efeitos sobre o desenvolvimento rural.

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