Lisboa verde oriental – entre parques, hortas e corredores verdes

Por: David Travassos

Foto 1 – A zona oriental de Lisboa oferece uma coleção diversificada, e até surpreendente, de lugares e áreas verdes (exemplo do Parque do Vale do Silêncio). Fotografia do autor.

A zona oriental de Lisboa oferece uma colecção diversificada, e até surpreendente, de lugares e áreas verdes propícias ao lazer e contacto com a natureza em espaço urbano. São múltiplos ambientes, alguns ainda pouco conhecidos pela maioria dos lisboetas, incluindo lugares marcados pelas memórias do passado rural que caracterizou este lado da cidade até meados do século XX. Este território tem vindo a beneficiar da abertura de uma série de novos espaços verdes, parques hortícolas, ciclovias e percursos pedonais, incluindo a requalificação ambiental e paisagística de áreas degradadas. Somam-se ainda novos quiosques e esplanadas, parques infantis, equipamentos e circuitos de manutenção, que possibilitam um melhor usufruto destas áreas.

Uma das bases mestras do desenvolvimento da estrutura verde de Lisboa é a implementação de um sistema de 9 corredores verdes – eixos de continuidade natural, pedonal e ciclável que interligam diversas áreas verdes. Dois destes corredores desenvolvem-se na metade oriental da cidade: o Corredor Verde Oriental, e mais a norte, o Corredor Verde dos Olivais. De referir ainda o Corredor Verde Ribeirinho que abrange toda a margem do Tejo, desde o Parque das Nações e Belém. Por outro lado, também os parques hortícolas (em modo de produção biológico) são outra das dimensões da estrutura verde, com inúmeras valências socioambientais, tendo já sido criadas 21 unidades desde 2011.

Esta publicação destaca três áreas verdes de criação recente da zona oriental – Parque do Vale da Montanha, Parque do Vale de Chelas e Parque Ribeirinho Oriente, ambos integrados em corredores verdes. Não menos importantes e abertos ao público na última década encontram-se o Parque dos Olivais, o Jardim da Quinta Conde dos Arcos e o Parque da Quinta das Flores, mas que por limitação de número de caracteres não foi possível salientá-los neste texto. Todas estas novas áreas são um acréscimo aos espaços de referência que já faziam parte da paisagem, como são os casos do Parque da Belavista, do Parque do Vale Silêncio, do Parque do Vale Fundão, da Quinta Pedagógica dos Olivais e da Mata da Madre de Deus.

Parque do Vale da Montanha

Foto 2 – Parque do Vale da Montanha. Fotografia do autor.

Inaugurado em 2018, este novo parque das freguesias de Marvila e do Areeiro vem acrescentar mais cerca de 11 hectares (numa primeira fase) aos parques e jardins de Lisboa. Desenvolve-se por uma encosta, paredes-meias com o Parque da Bela Vista (sul) e com ligação ao também recente Parque do Casal Vistoso (que inclui um parque hortícola), situado no outro lado do vale, onde se chega através de uma ponte ciclopedonal. A requalificação paisagística e ambiental desta área anteriormente degradada e ocupada por construções ilegais proporciona hoje um amplo espaço verde para passear a pé, servido por uma ciclovia, contando ainda com um novo quiosque com esplanada e um local equipado para o recreio infantil. A naturalização de linhas de drenagem, promovendo quer o escoamento, quer a infiltração das águas pluviais, restitui o circuito hidrológico do vale. A vegetação arbórea e arbustiva é composta maioritariamente por espécies autóctones. Para o futuro, está previsto o prolongamento do parque para sul, ao longo do vale, duplicando a sua área para cerca de 20 hectares, e passando a envolver o Convento de São Félix e Santo Adrião de Chelas, também conhecido por Convento de Chelas.

Parque do Vale de Chelas

Foto 3 – Parque do Vale de Chelas. Fotografia do autor.

Situado na freguesia de Marvila, e inaugurado em 2017, é o maior parque hortícola de Lisboa, com mais de 200 talhões, ocupando um vale orientado a sul, num cenário paisagístico original no contexto da cidade. É um mosaico de variedades hortícolas, em modo de produção biológico, não faltando flores e plantas aromáticas. A requalificação deste espaço permitiu ordenar a actividade hortícola que desde há muito aqui se realizava, proporcionando melhores condições de funcionamento e uma harmoniosa integração paisagística. São cerca de 13 hectares onde se combinam hortas e atividades de recreio e lazer. Para além da rede de caminhos, a área está servida por um parque infantil e um grande skate park. No extremo sul, a ponte ciclopedonal sobre a Avenida Santo Condestável permite uma ligação, através de um troço de continuidade com cerca de 700 metros, com o Parque do Vale Fundão, que também inclui um parque hortícola.

Parque Ribeirinho Oriente

Foto 4 – Parque Ribeirinho Oriente. Fotografia do autor.

É um dos espaços verdes mais recentes, inaugurado em 2020. O Parque Ribeirinho Oriente acompanha o Tejo ao longo de 650 metros, numa área com cerca de 4 hectares na zona de Braço de Prata, em Marvila. E está já previsto o seu prolongamento até à Marina do Parque das Nações, mais do que duplicando a sua extensão para cerca de 1,5 quilómetros. O imenso estuário assume aqui a sua amplitude e luminosidade. Não faltam bancos e espreguiçadeiras para contemplar este cenário, para além dos caminhos e da ciclovia que percorre paralela ao Tejo. A modelação do terreno permitiu criar zonas de conforto protegidas do vento. Para além das árvores, incluindo sobreiros, carvalhos-cerquinhos e freixos, o parque apresenta uma composição rica de espécies autóctones de arbustos que se combinam numa paleta com diferentes florações e aromas que variam ao longo do ano. É um novo ambiente renascido das cinzas de uma área anteriormente degradada, e de onde é possível prosseguir até ao Parque da Quinta das Flores, entrando assim no Corredor Verde Oriental.

Em suma, a estrutura verde é mais do que um somatório de espaços verdes, sendo mais importante a sua conectividade. É neste contexto mais abrangente que estes novos parques incorporam elementos importantes do ‘planeamento verde’ de uma cidade como Lisboa:

  • Estão integrados em corredores verdes que interligam diversas áreas importantes para a saúde ecológica da cidade, numa perspetiva de ‘sistema’, com todos os benefícios daí decorrentes, funcionando como eixos de circulação natural, pedonal e ciclável.
  • Implicaram (e são o resultado) da reabilitação ambiental e paisagística levada a cabo em áreas anteriormente degradadas.
  • Induzem uma série de benefícios ambientais, cumprindo desde as funções de regulação do sistema hidrológico e de drenagem atmosférica, ao fomento da biodiversidade, sobretudo quando associado à utilização e diversificação de espécies autóctones.
  • Numa perspetiva multifuncional, oferecem uma série de mais-valias sociais e culturais decorrentes das inúmeras valências e equipamentos criados: parques hortícolas; parques infantis; ciclovias; quiosques/esplanadas; espaços de recreio, desporto e lazer; que ganham ainda mais significado em zonas da cidade que careciam destas ofertas.
  • E, claro, concretizam o aumento da proporção de área verde no contexto da área urbanizada e no aumento do respetivo rácio em relação à população residente.

Texto com base na fonte original: Travassos, D. (2019). “Parques urbanos, memórias rurais”, em Teixeira, P. (Coord.), Lisboa a Oriente – Roteiro Cultural, Câmara Municipal de Lisboa, pp. 74-85.


David Travassos integra atualmente a equipa do ICS-ULisboa no projeto “ODSlocal – Plataforma Municipal dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, tendo já participado desde 2005 em diversos outros projetos como o “ClimAdaPT.Local – Estratégias Municipais de Adaptação às Alterações Climáticas”, o “INTRAG – Índice de Transparência na Gestão da Água em Portugal” e o “Ecoline – Conhecer mais para mudar melhor”.

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