Saúde e sustentabilidade numa calha comum: o caso do Programa Bairros Saudáveis

Por: João Guerra e Paulo Miguel Madeira

A saúde humana pode ser encarada de muitas formas e a partir de muitas frentes. Se o objetivo for resolver um problema pessoal e específico, uma abordagem mais incisiva recai num conjunto reduzido de fatores associado diretamente a uma enfermidade. Desse ponto de vista redutor, a avaliação da saúde baseia-se numa análise de cariz tendencialmente descontextualizada e reducionista, focada em processos individuais, físicos, observáveis e mensuráveis. No entanto, no campo mais alargado da saúde comunitária, esta abordagem mostra-se claramente insuficiente, já que, nesses contextos, social e ambiental, individual e coletivo, mesclam-se de forma intricada, funcionando como um ecossistema que determina as condições de existência.

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Conferência ODSlocal’22 – Caminhos, Dinâmicas, Futuros

Por: Paulo Miguel Madeira, João Guerra, Madalena Duque dos Santos, Luísa Schmidt e João Ferrão

O projeto ODSlocal – Plataforma Municipal dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa que tem mobilizado os municípios e outras entidades locais para a concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos na Agenda 2030 das Nações Unidas. Entre os seus vários propósitos está a capacitação das comunidades locais para a prossecução do desenvolvimento sustentável, estimulando a construção participada e colaborativa de estratégias de sustentabilidade municipal e a sua monitorização, bem como a valorização e divulgação de boas práticas, projetos inovadores e resultados alcançados. Para isso, o projeto conta com uma equipa diversificada e interdisciplinar que inclui, para além de investigadores do OBSERVA/ICS-ULisboa, participantes de outras instituições: MARE-NOVA, CNADS e, ainda, a 2adapt, a empresa responsável pela conceção do portal ODSlocal (o sítio eletrónico da Plataforma, a qual presta serviços também por outras vias).

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A miragem da Agenda 2030? Um enfoque a partir do ‘Africa SDG Index’

Por: João Guerra

A COVID 19 teve impactos imediatos que desembocaram numa crise humanitária e económica, mas também impactos de médio e longo prazo ainda difíceis de contabilizar. Do ponto de vista da Agenda 2030, estes impactos travam a prossecução dos dezassete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em todo o mundo e, em particular, em contextos geográficos onde, já antes da crise pandémica, nos deparávamos com situações socioambientais particularmente pungentes. Neste panorama, a proposta, ainda em discussão, de um plano de “transição e investimento verde” entre parceiros africanos e europeus, foi apresentada pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, em parceria com o Banco Europeu de Investimento. A gravidade da situação, no entanto, é reconhecidamente complexa e, de longe, ultrapassa questões de cariz meramente económico. Daí que os resultados do relatório de 2020 do Africa SDG Index and Dashboards apontem para a urgência de uma rápida intervenção da comunidade global que, com recursos e abordagens transversais bottom-up, salvaguarde as hipóteses de sucesso da Agenda 2030 nos países africanos.

Como consequência da pandemia estima-se que, em África, cerca de sessenta milhões de pessoas venham a ser empurradas para a pobreza (ODS 1), a insegurança alimentar quase duplique (ODS 2), cerca de cento e dez milhões de crianças e jovens vejam reduzido o acesso a uma educação de qualidade (ODS 4), os sistemas de saúde colapsem e se mostrem incapazes de acudir às necessidades das populações (ODS 3), deixando de fora os mais desfavorecidos e, em particular, as mulheres (ODS 5). Poderíamos continuar a elencar a agudização de situações que, grosso modo, correspondem a ameaças a cada um dos ODS, mas talvez possamos resumir as restantes aos efeitos nas economias locais/nacionais e às suas consequências no emprego, na receita interna, nas dívidas soberanas, na redução das remessas, na assistência ao desenvolvimento e – por último, mas não em último – ao adiamento de medidas de proteção ambiental, que ameaça hipotecar ainda mais o futuro de comunidades e nações.

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Um novo fôlego para o Desenvolvimento Sustentável?

Por João Guerra

Com os primeiros sinais de crise ecológica, nos anos sessenta e setenta do século XX, surgiu a ideia de Desenvolvimento Sustentável (DS). O conceito, no entanto, só décadas depois se consolidou com a publicação, sob o título “O Nosso Futuro Comum” (1987), do Relatório Bruntdland. Foi nesta obra que se delimitou o âmbito do DS e, a partir daí, se disseminou a ideia pelos mais variados cantos do globo: “um desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das gerações futuras”. Continuar a ler