Screening the Precarious Spaces of Home Across Europe

By: Anna Viola Sborgi

On September 19, 2022, a public screening entitled Espaços Precários da Habitação na Europa – Precarious Homes Across Europe took place at ICS-ULisboa. The screening showcased work of four emerging women filmmakers: Ayo Akingbade’s Dear Babylon (2019, United Kingdom), Leonor Teles’s Cães que Ladram aos Pássaros (2019, Portugal), Laura Kavanagh’s No Place (2019, Ireland and United Kingdom) and Margarida Leitão’s Gipsofila (Portugal, 2015). After watching the films, filmmaker Margarida Leitão and researchers Roberto Falanga and Mariana Liz joined me in an interdisciplinary conversation on cities, their inhabitants, gentrification and film. Members of the audience, which included participants in the Cinema e Ciências Sociais Summer School that was taking place at ICS-ULisboa in those very days, also asked questions and contributed to the discussion.

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Is Glasgow COP26 a new Copenhagen, overlooking the countries in most need?

By: Jiesper Pedersen

“The most hectic COP since Paris”, said the Kenyan delegation last week. Several promising things evolved from the COP26 climate summit in Glasgow. But a 29-year conflict remains unsolved, which is a key to entering the 1.5 °C pathway.

On the positive side, the COP agreement expresses global consensus about the scientific facts affirming that man-made global climate change exists. This creates a more straightforward foundation for future negotiations compared to the last 29 years of negotiations with a built-in skepticism established by the fossil energy industry. And for the first time, fossil fuels are mentioned in a  COP agreement – the importance of removing (inefficient) state subsidies for fossil fuels. In the final minutes, around 9 pm Glasgow time, there was great dissatisfaction with India’s late announcement of not wanting to phase out (but phase down) coal plants without CO2 capture. Previously, the language was “weakened”, as it is called in COP slang, by not dealing with all coal and coal power plants – with or without carbon capture. The third semi-uplifting thing about the agreement is that all countries must strengthen their ambitions to reduce greenhouse gases.

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YOON [caminho]

Por Pedro Figueiredo Neto

YOON | jɒn |, que em idioma wolof pode significar estrada, caminho ou percurso, é um projecto de longa metragem documental, contando também com uma  componente de investigação e  projecto artístico.

Rodado entre Portugal e o Senegal, atravessando Marrocos e a Mauritânia, YOON lança um olhar sobre determinadas mobilidades e actividades económicas entre Norte e Sul, e que envolvem não só bens e pessoas, mas também informações e ideias. Tudo isto é revelado através dos percursos de Mbaye S., um routier (denominação usada para referir os indivíduos que conduzem carros usados com fins comerciais) que, a cada mês, percorre os mais de 4000 Km de estrada que separam os dois lugares a que chama casa. Continuar a ler

Podem o cosmopolitismo e o racismo coexistir?

Por Susana Boletas

Cosmopolitismo e globalização

O cosmopolitismo, ideologia que eleva todas as pessoas, independentemente do seu local de origem, a cidadãos do mundo livres de nele circular, tem vindo a ser apresentado como solução para as limitações do multiculturalismo que, em nome da diversidade, peca por essencializar e reificar culturas e relações assimétricas de poder existentes dentro delas, por secundarizar direitos individuais e por separar mais do que incluir, pois a sua natureza ambígua presta-se facilmente à manipulação retórica. O regime de apartheid da África do Sul, por exemplo, fundamentou-se nas diferenças culturais existentes no país, que seriam, por conseguinte, inultrapassáveis. Vai ganhando força, assim, a ideia de uma cidadania cosmopolita que vá além do multiculturalismo e que contrarie a lógica assimilacionista do Estado-nação, que nega a diversidade e presume a superioridade de quem assimila sobre quem é assimilado. Continuar a ler

Para uma geografia de todos os lugares

Por João Ferrão

Nos anos 1990, Castells (1996) e outros autores defenderam que estava então a ocorrer a emergência de uma geografia de fluxos em detrimento da velha geografia dos lugares, no quadro de uma sociedade organizada em rede, potenciada pelas novas tecnologias de informação e comunicação, mas, também, pela crescente mobilidade de ideias, bens, capitais e pessoas no contexto da globalização das economias e das sociedades. Alguns autores foram mesmo mais longe (Friedman, 2005), anunciando um mundo ´plano` e o consequente fim da geografia, no sentido do esbatimento quer das barreiras à mobilidade quer da diversidade geográfica. Estaríamos, pois, a caminho de um mundo desterritorializado, sem obstáculos à circulação e tendencialmente homogéneo. O anúncio, ilustrado com múltiplos exemplos factuais, não constituiu uma verdadeira surpresa. Afinal, a chamada livre circulação dos fatores de produção sempre foi um princípio fundamental das teorias económicas liberais e alcançou uma centralidade particularmente decisiva com o neoliberalismo e a financeirização da economia. Continuar a ler

“Campo de refugiados sem refugiados”[1]

Por Pedro Figueiredo Neto

A observação de um campo de refugiados ao longo do tempo – de resto, como acontecerá com tantos outros lugares – informa acerca da história e política(s), sobre dinâmicas socioeconómicas e ambientais, sobre o evoluir das relações entre a esfera humanitária e do desenvolvimento, tanto ao nível regional como global. Desde 2012 que acompanho a situação no campo de refugiados de Meheba (Northwestern Province, Zâmbia), com incursões regulares no terreno (2012, 2014 e 2018) observando as várias transformações aí experienciadas, e reflectindo, entre outras coisas, acerca de qual o fim desse lugar muito além da emergência que lhe deu origem, bem como dos respectivos habitantes.

Criado em 1971 com vista a acolher populações que escapavam do conflito angolano, o campo de refugiados de Meheba iria crescer ao longo do tempo. Ecoando os picos de violência regional, o campo viria a receber também indivíduos oriundos da República Democrática do Congo (RDC), Ruanda, Burundi, Somália, entre outros países menos representativos. As sucessivas vagas de refugiados, a par do carácter agrícola (a cada núcleo familiar eram atribuídos cerca de 5ha de terra arável com vista à auto-suficiência), explicam os mais de 720km2 de área deste lugar. Da estrada alcatroada que liga as cidades de Solwezi e Mwinilunga parte a via principal do campo que, ao longo de mais de 35km, articula, em forma de espinha de peixe, os seus oito blocos. Até recentemente, uma leitura sócio-espacial informava, de modo mais ou menos linear, acerca de quarenta anos de conflitos na região. Hoje em dia, Meheba apresenta um panorama sócio-espacial e demográfico bastante mais complexo e heterogéneo, explicitando uma série de transformações políticas, socioeconómicas e humanitárias.

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Alterações climáticas: um contramovimento global em ação

Por Luiz Carlos de Brito Lourenço

Para enfrentar os negacionistas das alterações climáticas, mais do que resistir com intervenções práticas, é necessário um contramovimento de confronto com robustos argumentos científicos. Em última análise, foi o que sugeriu o apelo do Prêmio Nobel da Paz de 2007, Rajendra Pachauri. Ao encerrar uma breve palestra no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, em 30 de Maio de 2017, na qualidade de ex-presidente do IPCC, conclamou a audiência à contínua divulgação dos riscos das alterações climáticas em vista dos desvios na Casa Branca.

O presidente dos EUA, Donald Trump, começou no plano interno a cumprir sua promessa eleitoral de deixar o Acordo de Paris. Em 28 de Março de 2017, revogou decisões de Obama que amparavam a mitigação dos impactos das alterações climáticas, segurança nacional e  energia limpa.

No plano externo, a ansiada renúncia aos compromissos dos EUA veio às vésperas da Cimeira de Taormina do G-7, da qual ecoou o brado de seis outros países pela pronta implementação da declaração de Ise-Shima. Na Filadélfia, em Junho passado, Trump justificou o recuo em decorrência das “medidas financeiras e económicas draconianas impostas aos EUA”, pois o Acordo causaria a perda de 2,7 milhões de empregos (cálculo da NERA, a consultadoria das mineradoras).  Confiante, disse-se livre do Green Climate Fund (“um nome giro!”, zombou) e das obrigações de se atingir os USD 450 mil milhões a partir de 2020 para reduzir emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e adaptações a desastres naturais. Acusou o favorecimento da China, que “aumentará suas emissões de forma escalonada por 13 anos, com centenas de novas centrais eléctricas alimentadas a carvão”. Segundo o Greenpeace, até então, uma média de 4 usinas por semana eram autorizadas na China. Continuar a ler

“Não é maravilhoso ver as pessoas a viver como querem?!”

Autora: Susana Boletas

A Cova da Moura é um bairro periférico de Lisboa, um dos maiores de concentração de população imigrante. É um espaço autoconstruído e multiétnico, com um forte e interventivo tecido associativo.

10387617_499828923453363_6641458407111906138_n.jpgFonte: Página do Sabura no Facebook (autor desconhecido)

O Sabura é um projeto de uma associação local, o Moinho da Juventude, ativo desde 2004, que visa proporcionar aos interessados passeios turísticos e visitas guiadas à Cova da Moura. Os visitantes, geralmente grupos de estudantes portugueses e estrangeiros e pessoas interessadas neste tipo de turismo temático, são guiados pelas várias instalações do Moinho da Juventude, onde lhes são descrito os vários serviços que a associação tem disponíveis: creche, jardim-de-infância, atividades de tempos livres e apoio escolar, alfabetização de adultos, cantina social, gabinete de inserção social, biblioteca e um estúdio de gravação onde os jovens do bairro têm a oportunidade de mostrar aos visitantes as suas músicas e vídeos. Pelas ruas sinuosas da Cova da Moura, o guia vai contando aos visitantes como os moradores construíram eles próprios as suas casas, enquanto vão passando pelos vários restaurantes, cabeleireiros e mercearias existentes no bairro associados ao Sabura e pelos street art murals da autoria de jovens do bairro. As festas são, também, ocasiões que atraem visitantes à Cova da Moura, em especial o Kola San Jon, uma festa junina cabo-verdiana recriada no bairro e patrimonializada em 2013. Os visitantes trazem dinheiro ao bairro e levam consigo narrativas que contrariam o estigma a ele associado.

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A Aldeia Lunar: “Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade”

Autoras: Mónica Truninger e Vera Assis Fernandes

(english version)

E se um dia houvesse uma base permanente na Lua? Em vez dos ‘pequenos passos’ de Neil Armstrong e dos outros 11 astronautas das missões da Apólo que pisaram a Lua nos anos 60 e 70 do século passado, teríamos vários passos na construção e no uso de uma Aldeia Lunar (Moon Village) – diríamos um ‘salto gigantesco’ para a humanidade… E será?

Imagem2.pngFonte: Nascer da Terra, Apollo 8, NASA.

Esta Aldeia Lunar seria composta por infraestruturas, edifícios, habitações e hotéis, veículos e, quem sabe, explorações agrícolas para produção alimentar, cadeias de supermercados, cafés, pastelarias e até bares construídos sobre o regolito lunar ou dentro de tubos de lava, com a ajuda de impressoras 3D, robots e cyborgs. Se esta imagem caricatural parece retirada de um livro de ficção científica espacial, dos trabalhos de Andrei Sokolov e de Pavel Klushantsev, entre outros, sobre cidades soviéticas na Lua, ou da série televisiva Espaço 1999, na cabeça de muitos cientistas planetários, de responsáveis dos países ou regiões envolvidos na ‘velha’ e na ‘nova’ corrida ao espaço (EUA, Rússia, China, Japão, Índia, Europa, Canadá) e de empresários ‘lunáticos’ que apostam no próximo grande investimento – o turismo espacial –, a construção de uma Aldeia Lunar está a passar de um sonho a um projecto concreto que envolve milhares de milhões de euros. Continuar a ler

Estados-nação muralhados: presentes insustentáveis, futuros indesejados

Autor: João Ferrão

Em 2015, a construção de barreiras físicas nas fronteiras nacionais alcançou um lugar de grande destaque nas agendas política e mediática. Donald Trump, por exemplo, candidato às primárias do Partido Republicano dos EUA, defendeu a edificação de um muro de mais de 3.000 km ao longo de toda a fronteira com o México. Ao mesmo tempo sete países europeus, sobretudo do Leste mas também o Reino Unido e a Áustria, anunciaram ou iniciaram a construção de barreiras em alguns troços das suas fronteiras como forma de impedir a entrada de refugiados provenientes sobretudo do Médio Oriente.

Esta não é, no entanto, uma tendência recente: desde 2000 que o total de quilómetros de fronteiras nacionais protegidas por barreiras físicas não para de crescer.

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