Por: PhD SHIFTHub
Nascido das dificuldades e desafios da pandemia Covid-19, o PhD SHIFT Hub foi criado por estudantes e para estudantes no seio do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa). Em 2021, com o post PhD SHIFTHub: how adversities can be a catalyst for change, ficou clara a relevância do grupo para a comunidade ICS. Este novo post tem como objetivo refletir acerca do ano que passou, um ano em que o Hub se apresentou à restante comunidade científica, afirmando-se como dinamizador de um espaço de inovação e discussão entre pares.

A apresentação oficial ao grupo de investigação Ambiente, Território e Sociedade (GI SHIFT) decorreu na reunião de arranque das atividades do ano letivo de 2021/22. Quanto à restante comunidade universitária, o Hub compareceu nas várias reuniões de alunos promovidas pelos representantes dos estudantes nos órgãos do ICS, nomeadamente no Conselho Pedagógico e no Conselho de Escola, bem como em reuniões da Universidade de Lisboa, enquanto representantes dos estudantes. Perante a necessidade de reconhecer e valorizar as trajetórias académicas e as experiências pessoais dos doutorandos do ICS, a coordenação do grupo de investigação estabeleceu uma parceria com o Hub, que se viria a materializar através da colaboração no Ciclo de Seminários SHIFT. Neste Ciclo de Seminários, coube ao Hub a organização, divulgação e moderação de três seminários online (Outubro, Abril e Maio). Foi desde cedo vontade dos elementos do Hub trazer ao GI SHIFT, mas também ao ICS como um todo, temas que carecem de aprofundamento em Portugal, mas cuja relevância teórica, metodológica e política é incontornável.

Já era intenção do Hub convidar Noah Walker-Crawford, uma vez que a sua tese de doutoramento, defendida recentemente, cruza ciências sociais e alterações climáticas, através de um tema que conjuga questões associadas ao território, ambiente e sociedade – precisamente as áreas de investigação do GI SHIFT -, somando-se a lente crítica da Antropologia. Walker-Crawford é doutorado em Antropologia Social pela Universidade de Manchester e o seminário que protagonizou, intitulado “Climate Change in Court: Making neighbourly relations”, deu-nos a conhecer um pouco do seu vasto trabalho acerca de um caso em tribunal sem precedentes, que relata a história de um agricultor peruano que enfrentou uma empresa de energia alemã. Ao explorar o modo como o ativismo legal pode influenciar as políticas climáticas, a justiça climática e a responsabilidade são colocadas no centro da discussão.
Interessades pelo tópico do decrescimento, e tendo em conta que no último relatório do IPCC, lançado a 28 de fevereiro de 2022, este conceito é mencionado 15 vezes no corpo do texto, concretamente no relatório do WGII “Impacts, Adaptation and Vulnerability”, considerámos que seria a oportunidade ideal para dedicar um dos seminários a este tema. Colocou-se depois a questão de como o abordar. Ademais, tal como destacado no post dos editores no início de 2022, este também é o ano indicado para priorizar a temática do mar e dos oceanos na investigação conduzida no ICS, senão vejamos: assinala-se a Década das Nações Unidas da Ciência dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável; em junho, celebrou-se, em Lisboa, a Ocean Conference; finalmente, 2022 é o Ano Internacional de Pesca e Aquicultura Artesanal, um dos temas queridos dos elementos do Hub.
A escolha tornou-se, assim, óbvia: seria endereçado um convite a Maria Hadjimichael, que tem trabalhado sobre o decrescimento azul, que gentilmente aceitou. A sua comunicação, “(De)growth, the right to sea”, incidiu sobre a resignificação do espaço marítimo enquanto espaço económico, o que contribui para reforçar a sua mercadorização, tornando-o num instrumento de perpetuação do crescimento económico. O conceito de decrescimento azul, com o qual tem vindo a trabalhar, questiona a crença segundo a qual objetivos ecológicos, sociais e económicos podem ser atingidos numa lógica de crescimento. Com clara inspiração e paralelismos com o direito à cidade, Hadjimichael avançou a noção de right to the sea, em que estes se transformam em espaços de luta cuja definição conceptual é crucial.

Também a participação da investigadora Iana Nesterova foi considerada da maior relevância para este seminário sobre decrescimento, uma vez que o seu trabalho une decrescimento, realismo crítico e geografia. A investigadora ilustrou o modo como o decrescimento pode permitir uma coexistência harmoniosa entre humanos e natureza, e até do indivíduo consigo mesmo, embora tal implique transformações profundas, cuja concretização requer uma adaptação ao contexto único de cada geografia. Estas transformações exigem mudanças nos padrões de consumo, produção, troca, prestação de cuidados e nas visões do mundo, concedendo especial atenção aos sistemas culturais, socioeconómicos e políticos. Através da auto-etnografia, Nesterova incorpora as ideias que defende no seu quotidiano, procurando estar no mundo de forma diferente, consumindo menos, explorando alternativas, em suma, procurando ser uma agente de transformação. Uma inspiração para nós e, esperamos, para quem agora nos lê!
Em Maio, o terceiro e último seminário organizado pelo Hub procurou introduzir, igualmente, uma perspetiva crítica, desta feita acerca do desenvolvimento verde, contando com a intervenção de Melissa García Lamarca do Barcelona Lab for Urban Environmental Justice and Sustainability. O tópico da gentrificação verde é determinante, especialmente se tivermos em consideração as linhas de investigação do GI, que têm vindo a incidir sobre as problemáticas urbanas, como aliás se tem verificado no próprio Blogue SHIFT, através da Série Temática O Futuro das Cidades. Na sua comunicação, Melissa García Lamarca explorou o trabalho que tem realizado em torno das políticas e transformações urbanas em cidades europeias e norte-americanas. Assentes numa retórica “verde” pouco contestada, essas políticas têm contribuído para reproduzir padrões de segregação sociocultural e insegurança habitacional. A investigadora propõe, por conseguinte, que uma política urbana “verde” que acautele estes efeitos perversos de injustiça espacial depende de um mix de políticas adaptado ao contexto, que promova uma abordagem mais integrada entre ambiente, território e sociedade.
Tratou-se, portanto, de um ano letivo repleto de atividades interessantes, para além das nossas reuniões internas mensais, que proporcionaram momentos de reflexão e confraternização entre doutorandes! Tivemos a oportunidade de partilhar experiências e pudemos beneficiar das competências de todos os membros do Hub, o que permitiu impulsionar uma discussão transversal às áreas de interesse dos membros do GI e, principalmente, introduzir novos elementos às discussões já existentes. Estejam atentes às novidades para este ano, incluindo as reuniões mensais e seminários, que serão divulgadas através da nossa mailing list e da página de Facebook!
PhD SHIFTHub é um coletivo bottom-up de estudantes do Instituto de Ciências Sociais aberto a todos os estudantes do Instituto e parcerias com grupos de outros institutos (como o fez com a Associação Zero), de modo a construir um espaço seguro de empatia e apoio a diversos níveis. Para aderir à mailing list, contactar: phdshifthub@gmail.com