Por: Luís Junqueira, Alexandre Silva, Mónica Truninger
No nosso último post apresentámos parte do trabalho desenvolvido no ICS-ULisboa no âmbito do projeto europeu SafeConsume. O projeto tem também uma componente de impacto que incluiu, entre outras, uma tarefa de avaliação de materiais pedagógicos dirigidos a alunos entre os 11 e 18 anos e que seriam testados em colaboração com escolas dos países participantes (para além de Portugal, Reino Unido, Hungria e França). O protocolo de avaliação incluía uma aula sobre segurança alimentar dada por um professor com recurso aos materiais, bem como duas atividades de diagnóstico, a serem repetidas depois da aula para comparação: um questionário de teste de conhecimentos e uma atividade de observação prática. A tarefa foi liderada pela equipa do ICS, com a colaboração das equipas da Public Health England, do Centro Hospitalar Universitário de Nice e da Universidade de Medicina Veterinária de Budapeste. Iniciado em abril de 2020, o trabalho de campo desenrolou-se já em plena pandemia, o que perturbou bastante a realização das atividades nas escolas.
Para além do impacto da pandemia, o grande desafio foi o de negociar um protocolo entre investigadores com práticas de trabalho muito distintas. As nossas anteriores experiências de colaboração nas ciências sociais foram também pautadas por divergências, mas há um fundo comum às ciências sociais, produto de um legado histórico de diálogo e de partilha de referenciais (conceitos, linguagem, metodologias de trabalho, etc). Apesar de alguma proximidade das experiências no trabalho científico e académico, as diferentes abordagens metodológicas nas ciências sociais e nas ciências naturais/da saúde refletem também divergências profundas nas representações sobre a ciência e nas práticas de trabalho científico ou, se quisermos, diferentes culturas científicas (ou epistémicas).
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