Uma viagem à Amazónia

Por: Luiz Carlos de Brito Lourenço

O Brasil é um continuum de espaço e tempo ainda a ser revelado quando o tema é a Amazónia. Através do olhar vocacionado do cinéma du réel, o reconhecido produtor cinematográfico e documentarista brasileiro, João Moreira Salles – realizador de, entre outros, o corajoso Notícias de uma guerra particular (1999) e os biográficos Santiago (2007) e  No intenso agora (2017) –, escreveu Arrabalde: em busca da Amazônia (anteriormente referido neste blogue). São fotogramas de viagem a lugares do mais extenso cenário de biodiversidade do planeta. Salles compõe um abrangente registo de evidências e emoções sob a perspectiva ambiental, científica e socioeconómica, que multiplicam o conhecimento dos estudos sobre o bioma da Amazónia brasileira. Como numa novela, parte do texto foi periodicamente antecipada, a partir de novembro de 2021, em seis artigos densos para a revista de cultura Piauí, da qual Salles é editor. A versão impressa generosamente incorporou, pelo menos, um terço a mais de relatos.

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O reconhecimento dos brasileiros a respeito das alterações climáticas

Por: Luiz Carlos de Brito Lourenço

Há razões para crer que o Brasileiro contemporâneo é solidário aos urgentes apelos ambientais. Assim apontou o primeiro inquérito da série intitulada Percepção Climática, encomendado pelo ITS Rio e o Yale Program on Climate Change Communication ao IBOPE Inteligência, divulgado em 04/02/2021. Com o objetivo de avaliar o conhecimento dos brasileiros sobre as alterações climáticas, esta etapa teve por temática as queimadas da Amazônia. Para os organizadores, o Brasileiro não é negacionista.

Revelou-se que a maioria absoluta da população brasileira acredita em aquecimento global (92%); que este é uma ameaça às próximas gerações (88%) e é causado por ação humana (77%); e 61% estão “muito preocupados” com o ambiente. Da amostra total, 74% crê que queimadas não servem ao crescimento da economia, embora 29% dos inquiridos resida nas zonas afetadas.

A assertividade é acentuada entre pessoas com maior escolaridade (da amostra, 25% tem nível superior), com propensão ao voto progressista (19% esquerda), mulheres (54% da amostra) e jovens (17% têm entre 18 e 24 anos). A metodologia, tendo em conta a situação de pandemia, valeu-se de entrevistas por telefone a uma amostra ponderada de 2 600 indivíduos, dos quais 25% declararam “conhecer muito” os temas “aquecimento global” ou “mudanças climáticas”. Aparentemente, não vingaram as retóricas conservadoras da perversidade, do perigo e da futilidade usadas para impedir ideias reformistas (Hirschman, 1991), presentes no recente discurso oficial do Brasil.

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