COP-30 e as perspectivas sócio comunitárias no tema da eletricidade no Brasil

Por: Thiago Silva, Ana Horta e Vera Ferreira

Em novembro deste ano ocorrerá, no Brasil, a 30ª Conferência das Partes (COP-30), tendo a transição energética como um dos temas centrais. Na condição de país emergente e situado entre as maiores economias da América Latina, o Brasil assumirá papel de destaque nas discussões sobre mudanças climáticas e na transição para uma economia de baixo carbono. Tal protagonismo revela-se relevante não apenas por abrir espaço para que os países apresentem suas iniciativas e compromissos, mas também por permitir que o mundo observe, no centro da Amazônia Brasileira, as metas assumidas pelo governo nacional.

Nos últimos anos, o posicionamento do Brasil em relação às mudanças climáticas oscilou de forma significativa. Entre 2019 e 2022, o país enfrentou críticas internacionais devido ao enfraquecimento de políticas ambientais, ao aumento do desmatamento na Amazônia e a uma postura menos comprometida nas negociações multilaterais. Em contraste, a gestão iniciada em 2023 buscou retomar o protagonismo brasileiro, reafirmando compromissos no âmbito do Acordo de Paris, anunciando metas de desmatamento zero até 2030 e sinalizando investimentos em energias limpas e inovação tecnológica para acelerar a transição para uma economia de baixo carbono. Essa mudança de postura política fortalece o papel do Brasil no debate climático global e cria expectativas sobre a liderança do país no evento deste ano.

O debate sobre a transição energética será essencial para mitigar os impactos das alterações climáticas, exigindo a intensificação do processo de substituição das fontes fósseis por alternativas renováveis. O Brasil, anfitrião da COP-30, é atualmente um grande produtor de energia renovável, com destaque para as fontes hidrelétrica e solar, que em 2024 corresponderam a 89% da matriz elétrica. O país terá a oportunidade de evidenciar seus avanços e perspectivas no setor elétrico, mas também de explicitar como pretende superar desafios relacionados à modernização da infraestrutura elétrica e à redução das emissões de gases de efeito estufa.

Questões como a justiça da transição para as populações mais vulneráveis e as implicações econômicas e sociais de uma mudança acelerada na matriz energética certamente integrarão a agenda. O Brasil necessitará equilibrar suas demandas de desenvolvimento econômico e inclusão social com a urgência de mitigação climática. A Conferência configurará, portanto, espaço privilegiado para a apresentação de modelos inovadores e inclusivos que apontem para uma matriz energética mais sustentável, acessível, universal e democrática.

As energias renováveis de base comunitária despontam como temática relevante sobretudo quando se considera o acesso à eletricidade por grupos em situação de vulnerabilidade. Trata-se de iniciativas que recorrem a fontes como a solar, a eólica e a biomassa, buscando beneficiar diretamente as comunidades, frequentemente com sua participação ativa na produção, distribuição e gestão da energia, em resposta à ausência de concessionárias ou à limitação das grandes redes. Experiências de geração solar comunitária já vêm sendo implementadas em áreas rurais e comunidades isoladas; contudo, o Estado brasileiro precisa reforçar seu compromisso no enfrentamento da pobreza energética, que ainda afeta milhares de cidadãos da região amazônica, do semiárido nordestino e de territórios minerários.

Iniciativas como o Programa Luz para Todos (2002-2028) têm desempenhado papel relevante na universalização da eletricidade, incluindo a incorporação de soluções baseadas em fontes renováveis em localidades remotas. Nas últimas décadas, colhem-se os frutos dessa política, que garantiu acesso à energia para mais de 98% da população brasileira. Todavia, persistem situações de baixa qualidade no fornecimento. Comunidades indígenas, em particular, têm emergido no debate, dada a necessidade de soluções energéticas adequadas para superar cenários de pobreza energética. O Programa Luz para Todos assumiu o compromisso de atender esses territórios, ao mesmo tempo em que caminha para o encerramento de seu ciclo, após mais de duas décadas de vigência.

Em 2022, novos avanços ocorreram com a promulgação da Lei nº 14.300, que estabeleceu o marco legal da Micro e Minigeração Distribuída (MMGD). A legislação concedeu respaldo normativo para que pequenos consumidores e empreendimentos atuem de forma descentralizada na geração e distribuição de energia. Esse processo favoreceu a criação de cooperativas e microrredes, ampliando a participação comunitária na governança local e gerando benefícios socioeconômicos relevantes, além de estimular um sentimento de maior autonomia no controle sobre as próprias fontes energéticas. Nesse contexto, cabem aos consumidores análises quanto à relação custo-benefício, às tecnologias utilizadas, à escala das centrais geradoras, à localização (rural ou urbana) e às condições de financiamento.

A este respeito, o diálogo entre investigadores do Brasil e de Portugal contribui para aprofundar a compreensão dos diversos desafios que se colocam à participação ativa dos cidadãos nas novas iniciativas de energia descentralizada. Aspectos como o acesso das populações a informação, a literacia energética ou a complexidade dos processos administrativos, por exemplo, podem colocar importantes entraves à implementação destas soluções, tal como se tem verificado em Portugal.

Figura 1 Micro e minigeração distribuída; Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica do Brasil, 2025.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica, o debate sobre eletricidade no âmbito da COP-30 e seus desdobramentos exigirá acompanhamento contínuo, a fim de verificar em que medida os compromissos assumidos se materializarão em ações concretas. Há soluções já delineadas e, sobretudo, a necessidade de maior sensibilidade na abordagem da transição energética em comunidades periféricas brasileiras. A MMGD, os arranjos locais e o processo de transição energética configuram-se como pontos centrais para a construção de alternativas que superem desigualdades históricas no acesso à eletricidade. O Brasil tem a oportunidade de apresentar, com transparência, propostas capazes de transformar a vida da população em todas as regiões do país.


Thiago Silva é Investigador Visitante no ICS-ULisboa, com um Pós-doutoramento em Administração na PUC Minas e Doutorado em Desenvolvimento e Ambiente. Os autores agradecem o financiamento público do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil (CNPq), Processos nº 403913/2024-1 e 200050/2025-7. thiago.silva@academico.ufpb.br

Ana Horta é Investigadora Auxiliar no ICS-ULisboa e membro do grupo de investigação SHIFT. Doutorada em Sociologia, faz parte da equipa de coordenação da Secção Ambiente e Sociedade da Associação Portuguesa de Sociologia.

Vera Ferreira é Doutorada em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável no ICS-ULisboa.

50 Anos de Abril: questões ambientais, sociais e territoriais

Por: Mónica Truninger

Este é o meu último post como coordenadora do GI SHIFT. Ao longo destes cinco anos, tive o privilégio de organizar as atividades do GI, contando, numa primeira fase, com a colaboração da Olivia Bina e do João Graça, e, numa segunda e última fase, do João Mourato e João Guerra. De forma a celebrar a atividade deste grupo enérgico, dinâmico e especialista em questões ambientais, sociais e territoriais, aproveito este momento  para realçar neste texto uma obra coletiva do SHIFT, que esteve em preparação ao longo de 2024 e que está prestes a chegar às livrarias. Trata-se da obra 50 Anos de Abril: Questões Ambientais, Sociais e Territoriais, da Imprensa de Ciências Sociais. Esta obra reúne um conjunto de capítulos escritos por vários investigadores do SHIFT, refletindo o trabalho desenvolvido pelo grupo enquadrado no contexto das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974. Este marco histórico marcou a transição para a democracia em Portugal e a libertação de um regime autoritário. A Revolução dos Cravos e, a seguir a Constituição de 1976, permitiu a emergência de um novo regime democrático baseado nos princípios de liberdade, igualdade e justiça, consagrando direitos fundamentais, incluindo o direito ao ambiente e à qualidade de vida. Desde então, o país tem vivido transformações profundas em diversas áreas, mas também tem enfrentado desafios significativos, em particular nas últimas décadas, nomeadamente em relação ao ambiente, sociedade e território. 

Passadas cinco décadas, considerámos pertinente fazer uma análise crítica e reflexiva das principais transformações resultantes da instauração e consolidação da democracia: quais as expectativas cumpridas, quais as mudanças realizadas, mas também quais as promessas que ficaram por cumprir e até os retrocessos que acabaram por ocorrer. O foco dessa análise recaiu sobre as temáticas do grupo de investigação SHIFT: Ambiente, Território e Sociedade, em particular sobre as dinâmicas subjacentes aos desafios socioecológicos e territoriais da sociedade portuguesa, enquadrada não só na escala europeia, mas também na escala global. Será que o espírito de Abril se cumpriu, consolidando a transição para uma sociedade mais justa, resiliente e sustentável? E, tomando a Constituição como mote, será que foram construídos territórios mais ‘justos’ e ambientes mais ‘livres’ de diversas formas de poluição? E que capital de participação cidadã foi sendo acumulado ao longo destes 50 anos? Qual tem sido o contributo das organizações formais e informais de cidadãos para a construção de um país mais coeso, participativo e ‘fraterno’, em matéria de ambiente e território?

Tendo como mote os valores e os princípios que o 25 de abril de 1974 trouxe, e que a Constituição de 1976 consagrou, os contributos dos membros do grupo de investigação SHIFT, incluindo investigadores integrados e doutorandos, foram enquadrados por dois eixos de análise. Por um lado, os textos apresentam uma breve contextualização e trajetória históricas da temática em apreço nos últimos 50 anos, salientando os principais marcos e pontos de viragem. Por outro lado, os autores questionam até que ponto esta trajetória foi cumprida ou descontinuada, afastando-se até do espírito de Abril e fragilizando, assim, a própria democracia. 

A cover of a book

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Figura 1 – Capa do livro 50 Anos de Abril – Questões ambientais, sociais e territoriais (ICS, no prelo). 

O livro está dividido em três partes: questões ambientais, questões sociais e questões territoriais, com capítulos interligados que refletem sobre as conquistas e os desafios dos últimos 50 anos. A primeira parte, dedicada às questões ambientais, inicia-se com o capítulo de João Guerra, Luísa Schmidt e David Travassos, intitulado “Áreas Protegidas – trajetórias da conservação da natureza em Portugal”. Os autores analisam os avanços e retrocessos na política de conservação, destacando a falta de recursos para gestão e fiscalização. No capítulo seguinte, “Energia solar descentralizada: 50 anos de políticas públicas”, Sofia Ribeiro analisa os desafios energéticos em Portugal, desde a eletrificação do território após a Revolução até à promoção das energias renováveis nas últimas décadas. Complementando essa análise, Vera Ferreira, em “A energia comunitária em construção – um caso de democracia em Portugal?”, explora o papel das comunidades de energia renovável como ferramentas de participação democrática e transição energética. Por fim, Joana Sá Couto, no capítulo “A tua política é o trabalho […] O teu único jogo deve ser a pesca: o trabalho na pesca desde o Estado Novo à emergência climática”, reflete sobre as crises do setor piscatório, conectando-as às escolhas políticas e ao impacto das mudanças climáticas.

A segunda parte do livro foca-se nas questões sociais. Ricardo Moreira, em “O Estado Social que a Constituição abriu e as sementes do Estado Ambiental que ainda esconde”, discute como a Revolução impulsionou o Estado Social em Portugal, destacando os avanços em direitos sociais e as limitações na integração de políticas ambientais. Simone Tulumello e Luisa Rossini, no capítulo “A paz, o pão, …, saúde educação: a habitação, a grande ausência do Estado social democrático”, analisam as políticas habitacionais desde 1974, enfatizando as tensões entre as promessas da Revolução e os problemas habitacionais que persistem atualmente. Ana Delicado e Jussara Rowland, em “50 anos de construção de uma democracia participativa em matérias ambientais”, exploram a evolução da participação cidadã em questões ambientais, desde mobilizações espontâneas até a institucionalização de audiências públicas e o papel das ONG de ambiente. Por sua vez, Roberto Falanga, José Ribeiro e João Moniz, no capítulo “Cidadania e participação nos últimos 50 anos em Portugal: a consolidação democrática entre urnas e ruas”, examinam práticas emergentes de diálogo entre cidadãos e instituições, como o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL) e os orçamentos participativos.

Na terceira parte, dedicada às questões territoriais, João Mourato, Inês Gusman e André Pereira, em “50 anos de (in)definição regional: convergências e conflitos de governança territorial em Portugal”, analisam a complexidade da governança regional, destacando os paradoxos e conflitos na organização territorial após o 25 de Abril. Kaya Schwemmlein, no capítulo “Variadas crises do sistema agrícola alentejano”, reflete sobre a evolução dos sistemas agrícolas no Alentejo, abordando questões relacionadas com o uso da terra, posse e sustentabilidade. Encerrando o volume, Rosário Oliveira, em “Alimentar as cidades de modo sustentável e saudável é preciso: das hortas urbanas ao sistema alimentar metropolitano”, descreve a transformação das hortas urbanas espontâneas em sistemas alimentares metropolitanos, propondo estratégias para o planeamento alimentar que sejam simultaneamente sustentáveis e saudáveis.

Esta obra apresenta, assim, um cenário misto, composto por avanços e desafios. Se, por um lado, foram alcançados progressos significativos em setores como a educação, a saúde, a segurança social, o abastecimento de água e o saneamento, a legislação sobre ambiente e natureza, o desenvolvimento da rede viária, a democratização das instituições e o aumento da participação cívica; por outro lado, persistem muitas questões por resolver. Entre estas, destacam-se-se as desigualdades sociais e socioterritoriais, os avanços e recuos nos debates sobre a regionalização, o difícil acesso à habitação, a gestão ineficiente da conservação da natureza, as limitações na adoção das energias renováveis, a crise no setor das pescas e os efeitos nocivos da agricultura intensiva para o ambiente e para a saúde humana. Todos estes desafios representam obstáculos à implementação de transições justas, especialmente face aos impactos crescentes das alterações climáticas no nosso país. 

Numa época marcada pelas comemorações dos 50 anos da Revolução, o livro do GI SHIFT oferece, assim, uma reflexão crítica sobre os avanços e retrocessos das últimas cinco décadas, propondo caminhos para uma sociedade mais justa, sustentável e democrática, em consonância com os ideais do 25 de Abril. 

Figura 2,3,4: Desfile comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 (Avenida da Liberdade, Lisboa, Portugal a 25 de Abril de 2024)Fonte: figuras 3 e 4 fotos de Luisa Rossini; figura 2 RitaFMatos (https://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:25_de_Abril_de_2024_08.jpg).

Mónica Truninger é socióloga e coordenadora (em final de mandato) do SHIFT: Grupo de Investigação Ambiente, Território e Sociedade do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. monica.truninger@ics.ulisboa.pt

About songlines and relational approaches in (sustainability) sciences and education

Por: Antje Disterheft

I learned about songlines during my PhD, when I was eager to get to know participatory methods that would take people to the “depths of things” and provide “real participation” – that’s when I came across Dragon Dreaming. Fascinated by its holistic approach and its three principles – personal empowerment, community building and service to the Earth – I took several courses to learn more about it, and thereby I also learned a bit about Aborigines’ philosophies and worldviews, an important inspiration in Dragon Dreaming.

About songlines

Margo Ngawa Neale, adjunct professor at the Australian National University’s Centre for Indigenous History and senior manager at the National Museum of Australia, describes songlines as libraries that store knowledge critical to survival: these songlines, also called dreaming tracks, are sacred routes in Aboriginal culture, passed down through generations. They represent pathways across the land, guiding people physically and spiritually along distant walks and helping them find, for example, landmarks and water sources. As Aboriginal people walk these paths, they sing the land into being, reinforcing their deep relationship with it. The songs carry vital information from ancient narratives shared among different language groups, facilitating cross-cultural understanding and a perception of the land not just as a resource but as a living entity with which humans and other-than-humans are deeply intertwined.

I was thrilled to discover an exhibition on Songlines at the Musée du Quai Branly in Paris during a family trip last year. The project behind the exhibition was started by Aboriginal elders, aiming to preserve the stories of the Seven Sisters for future generations and to raise awareness of songlines more broadly. Walking through the artworks, I felt a glimpse of the cultural richness of one of the oldest Indigenous cultures—dating back approximately 60 000 years ago—and their profound connection to the more-than-human world (Figure 1).

Figure 1: Impression of the exhibition Songlines, Musée du Quai Branly Jaques Chirac, Paris (Photographs and collage by author)

The concept of songlines stayed with me and resurfaced as I explored relational approaches in sustainability research and education—a growing area of interest among scholars. I have highlighted just a few sources to introduce some key ideas being discussed in this field, and invite you to reflect on how these relational approaches might connect to the Aboriginal songlines.

Is there a relational turn in sustainability science?

This question was asked in an article by Simon West and colleagues in 2020, who emphasize relational approaches as being more holistic and dynamic analyses of human-nature connectedness. They hold the potential to open new domains and approaches for sustainability interventions that nurture relationships in place and practice. In the same year, Zack Walsh and colleagues called for action for sustainability researchers to co-develop a research agenda for advancing this relational paradigm within sustainability research, practice, and education.

Why a relational paradigm?

The emergence of a relational paradigm stems from the need to address shortcomings in previous sustainability science approaches that have mainly focused on impact reduction and resource optimisation through technology advancements as the main road to change. These approaches have fostered dualistic rather than relational understandings by addressing certain elements of the system without addressing the intrinsic relations between them. While sustainability science often emphasizes the interaction between system elements, the relational approach emphasises continually unfolding processes and relations among entities. Similar terms and concepts, such as the ecological paradigm or systems approach, metamodernism, constructive postmodernism, and new materialism, exist both within and outside sustainability-related discourses.

Walking together in a world of many worlds”

This is the subtitle of the latest publication of West et al. (2024) who have further systematized relational approaches and mapped their overlaps and differences, organized in five intersecting areas: (i) Indigenous-kinship relationalities, (ii) systemic-analytical, (iii) posthumanist-performative, (iv) structural-metabolic, and (v) Latin American-postdevelopment (Figure 2). The authors conclude that the diversity of these relationalities “gives rise to practices of transformations as ‘walking together in a world of many worlds’ and support intercultural dialogue on sustainability transformations”.

A diagram of relationships between individuals

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Figure 2: Relational approaches to sustainability transformations in sustainability science (West et al. 2024, article under open access and Creative Commons CC BY license).

What about a relational turn in (higher) education?

Vivienne Bozalek, Michalinos Zembylas and Joan Tronto published an inspiring book about Posthuman and Political Care Ethics for Reconfiguring Higher Education Pedagogies that is based on relational ethics. The contributions to this book consider the various ways in which posthuman and care ethics might open more fruitful ways of reconsidering the ways in which higher education pedagogies are enacted and how they might be differently perceived in the current circumstances of educators and researchers teaching in universities.

Canadian sustainability educator Elisabeth Lange argues that relationality demands an ethical, ontological, and epistemological transformation in the ways we learn and teach. She argues that relational values, present in living systems theory and indigenous philosophies, can “reframe our understandings of transformative education, particularly toward socially just and regenerative cultures, completing the work of unfinished justice and climate movements.”

Developing “songlines” for transformative research and education?

While relational discourses may seem abstract and theoretical, they hold significant practical potential. I propose using songlines as a metaphor to open new pathways for fostering connections with places and all forms of life.

Songlines can serve as a powerful educational tool, where young people learn about geography, ecology, and culture through direct engagement with the land. In a similar way, relational sustainability in education promotes experiential learning, helping students understand the intricate relationships between natural systems, human societies, and the broader environment.

Songlines represent a form of living knowledge, passed down through generations, offering wisdom on how to care for the land. Relational sustainability also embraces multiple ways of knowing, encouraging us to draw from diverse disciplines and cultural traditions, including Indigenous wisdom, to deepen our understanding of how to coexist sustainably with the natural world.

“If you stay connected, you will stay knowledgeable.” Margo Ngawa Neale about songlines


Antje Disterheft is an inter- and transdisciplinary researcher in the fields of sustainability transformation and education. She joined ICS as a team member of the Shared Green Deal. Central to her investigation are transformative processes that question the status quo and challenge current societal paradigms of knowledge production and learning.

Fazer experiências com a divulgação de um projeto – Parte II: a Zine

Por: Jussara Rowland, Ana Delicado, e Clara Venâncio

Zines Académicas: Porquê e para Quê?

No nosso post anterior, sobre a relevância de experimentar novos formatos de disseminação, debruçámo-nos sobre a criação de um desdobrável, em formato de “quantos queres”, no âmbito do projeto de investigação Engage IoT – Envolvimentos sociais com a Internet das Coisas (EXPL/SOC-SOC/1375/2021), mencionando a sua articulação com uma zine. Mas, afinal, o que são as zines?

As zines, termo derivado de fanzines e ascendente de e-zines, são publicações não oficiais, produzidas de forma independente, mais ou menos artesanal, sobre temas variados. Originadas nos anos 1930 junto dos entusiastas da ficção científica, as zines ganharam sucesso a partir dos anos 1970 nos movimentos ativistas punk e da música alternativa, e dos anos 1990 no movimento underground feminista Riot Grrrl. Tradicionalmente associadas a culturas DIY, movimentos sociais e artísticos, as zines têm como principal função a disseminação de ideias e a partilha de informações fora dos circuitos convencionais.

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The ABIDE Project: Attuning to animals and multispecies experiences of disasters

By: Verónica Policarpo

The golden hour

Under the golden hour light, the green of the trees seems deeper and magical. It sparkles. We walk silently up a path covered with leaves from last Autumn’s season. There are footprints from wild boars, and we all bend to watch them closely, a mix of curiosity and fascination. We finally settle near a path leading to a thicker grove of trees. Ricardo Brandão, the coordinator of CERVAS, the Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens, in Gouveia (central Portugal), lays down the box he carries. Inside, a small tawny owl crouches in motionless silence. This member of the Strix aluco family arrived at CERVAS a couple of months before, injured, where he was cared for by the center’s team. What does it mean to take care of another living being so that recovery from trauma and disaster is possible? How can we look into the marvel of another living being in their recovery process? How can we turn the awe we feel into humble learning?

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Fazer experiências com a divulgação de um projeto: Parte I

Por: Ana Delicado, Jussara Rowland e Clara Venâncio

Um projeto de investigação, uma estratégia de disseminação de resultados

Engage IoT – Envolvimentos sociais com a Internet das Coisas foi um projeto de investigação exploratório financiado pela FCT (EXPL/SOC-SOC/1375/2021) que decorreu no ICS, no âmbito do GI SHIFT, entre 2022 e 2023. O objetivo central deste projeto foi compreender como os atores sociais (produtores, consumidores, reguladores) se envolvem com um novo tipo de tecnologia (Internet das Coisas – IoT), desde o nível macro dos imaginários sociotécnicos até ao nível micro das práticas de utilização.

Um projeto de investigação que não dissemina os seus resultados é inútil. Sem dúvida que apresentar comunicações em congressos, publicar artigos em revistas ou mesmo um livro (ainda estamos a trabalhar nisso) é essencial para debater os resultados entre pares. Contudo, nós queríamos chegar mais longe: chegar a quem desenha estes produtos tecnológicos, a quem os regula, a quem os usa; assim como a quem se interessa por tecnologia e pelos seus aspetos sociais. Com esse intuito, criámos e alimentámos um website: em colaboração com um realizador (João Ramos) fizemos um vídeo curto e em colaboração com uma socióloga/designer (Tatiana Ferreira) fizemos uma research brief.

Experimentámos também novos formatos que permitissem ainda um maior alcance em termos de disseminação.  Optámos, assim, por fazer um desdobrável e uma Zine (que será material para a parte II deste post).

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Venham ao Fórum da Habitação! (Post promocional-epistemológico)

Por: Marco Allegra

A equipa do projeto LOGO está a organizar o primeiro Fórum da Habitação do projeto no dia 26 de março.

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O que conta enquanto “extensão” em ciências sociais? Reflexões a partir da Caravana pelo Direito à Habitação

Por: Simone Tulumello

Em 2020, o Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-ULisboa) lança a primeira edição do prémio Extensão em Ciências Sociais (ECS). O prémio, de acordo com o regulamento, tem «como objetivo valorizar atividades de extensão inovadoras desenvolvidas, individualmente ou em equipa, por investigadores e/ou estudantes do ICS, constituindo uma forma de retribuir e compensar esses investigadores pelo empenho que dedicam a este tipo de atividades». A “extensão universitária” (em inglês, outreach) inclui todas as atividades da academia “fora da academia”: por um lado, a comunicação científica, isto é, as ações que visam divulgar as atividades académicas para o público em geral (este blogue é um excelente exemplo); e, por outro, nas palavras do regulamento do prémio ECS, as «atividades de extensão para a comunidade (iniciativas orientadas para, ou desenvolvidas com, a comunidade e stakeholders)», isto é, atividades em que a academia colabora com atores não académicos na promoção de vários objetivos. Nesta segunda categoria, o regulamento inclui várias atividades, principalmente ligadas à promoção de políticas públicas (p.ex. audições parlamentares, pareceres), à promoção da cultura científica (p.ex. estágios de ocupação científica, ações de formação) e à responsabilidade social. O tema deste post é uma das atividades incluídas na lista: “ações de intervenção social”.

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Um Living Lab para a monitorização e avaliação participativa da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza

Por: Roberto Falanga e Daniel Silva

No âmbito do protocolo assinado entre o Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e o PlanAPP – Centro de Competências de Planeamento, de Políticas e de Prospetiva, a equipa coordenada por Roberto Falanga, um dos autores deste post, teve a responsabilidade de produzir conhecimento sobre o estado da avaliação das políticas públicas em Portugal numa primeira fase, entre 2022 e 2023, e avançar com um modelo de monitorização e avaliação participativa numa segunda fase, em 2023. Neste post, debruçamo-nos sobre algumas das principais aprendizagens retiradas da segunda fase, que foi desenvolvida em parceria com a equipa coordenadora da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza (ENCP). A partir dessa tripla parceria, o ICS, o PlanAPP e a equipa coordenadora da ENCP estruturaram o primeiro Living Lab do género de que há conhecimento em Portugal, cujo foco foi a preparação de um roteiro para as entidades que irão envolver a população destinatária na monitorização e avaliação de medidas enquadradas e enquadráveis na ENCP. Convém salientar que o carácter inovador desta experiência adquire ainda mais relevância perante o quadro pouco animador da avaliação de políticas públicas no país, que foi apresentado num capítulo de autoria de Roberto Falanga e Camila Costa nos Cadernos do Observatório da Qualidade da Democracia 2023.

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Da esquizofrenia das políticas ambientais em Portugal. Conhecimento de base científica no apoio à tomada de decisão – Precisa-se

Por: Rosário Oliveira

Em contexto de instabilidade generalizada à escala global, as políticas ambientais ganharam um estatuto quase esquizofrénico, tornando-se difícil, senão impossível, prever a trajetória que irão prosseguir para evitar a hecatombe climática e de perda de biodiversidade, com consequências trágicas para a sobrevivência dos ecossistemas e da sociedade do século XXI.

Não se trata de um discurso catastrofista, senão do reconhecimento factual acerca do descomprometimento e desresponsabilização dos países relativamente aos Acordos internacionais para inverter a tendência de aquecimento global e de perda massiva da biodiversidade.

No momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) promove a 28ª edição da Conferência das Partes – COP 28, sobre mudanças climáticas, fica claro o jogo de forças das grandes potências mundiais entre apostar na economia do carbono ou na sua descarbonização.

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