UNLEASH: pensar em soluções para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Por Jessica Verheij

No mês passado participei no UNLEASH, um programa de inovação social com a duração de uma semana, organizado por várias organizações e instituições internacionais. Este post serve para dar a conhecer o programa UNLEASH através da minha experiência, e, mais importante, para encorajar todos os doutorandos e investigadores até aos 35 anos, que estão a trabalhar em temas de desenvolvimento sustentável, a candidatar-se a este programa. UNLEASH é uma organização sem fins lucrativos patrocinada por vários parceiros internacionais, como as empresas de consultoria Chemonics e Deloitte, e várias fundações e organizações, como a Carlsberg Foundation e a Dalberg. Tem sede na Dinamarca e foi aqui que decorreu a primeira reunião do UNLEASH em 2017. No ano 2018 o programa teve lugar em Singapura, e em 2019 em Shenzhen, na China. Uma vez que está diretamente relacionado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, o objetivo é organizar o programa todos os anos até 2030 – ano em que se pretende que os Objetivos sejam atingidos.

O UNLEASH pretende juntar ‘talentos’ de todo o mundo e de uma diversidade de áreas, para pensar em soluções inovadoras que possam contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O programa baseia-se numa lógica de hackathon: durante 6 dias os participantes, divididos em grupos de 4 ou 5 pessoas, trabalham intensamente para partir de um problema e chegar a uma solução que seja viável, prática e que tenha um impacto positivo num ou vários dos Objetivos da ONU. Esta fase é chamada ‘laboratório de inovação’ e é desenvolvida por uma equipa da Deloitte, com experiência em facilitar workshops e projetos em equipa. Assim sendo, o objetivo é chegar ao final do laboratório com uma solução que tenha interesse não só para uma ou várias comunidades específicas, mas também para potenciais investidores. O UNLEASH pretende principalmente isso: dar visibilidade. As equipas apresentam as suas soluções a um público que inclui grandes consultoras, como a Deloitte e a Chemonics, mas também empresas incubadoras que estejam à procura de possibilidades interessantes para investir. E funciona: só este ano várias equipas receberam propostas concretas e muitas foram contactadas para discutir uma possível cooperação.

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Processo de trabalho durante o laboratório de inovação (Novembro 2019). Fonte: fotografia cedida por Judy Lim.

Mas mesmo que não estejas diretamente interessado/a em começar a tua própria start-up ou em angariar fundos de investimento, o programa tem muito para oferecer. Em primeiro lugar, a dinâmica é muito interessante por criar ligações entre uma grande variedade de pessoas e organizações: desde ONG a empresas multinacionais e desde pessoas que trabalhem diariamente com o desenvolvimento sustentável a investidores e empreendedores. Além disso, o grupo de participantes é realmente diverso: conheci pessoas a trabalhar para a ONU, para governos locais e nacionais e para ONG, mas também em áreas que não estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento ou a sustentabilidade, como empresas de tecnologia e engenharia. Neste sentido, o programa é, na minha opinião, muito relevante para nós, os “académicos”: procuramos sempre estar em diálogo com a sociedade, mas muitas vezes esse diálogo acontece em meios semelhantes ao nosso – de ativismo ou de investigação. No UNLEASH tive a oportunidade de ganhar novas perspetivas sobre os problemas que investigo diariamente – ideias que eu tomava por certo e que passaram a ser questionadas pelas pessoas da minha equipa. Fui obrigada a sair da minha zona de conforto e da minha maneira habitual de pensar. Apesar de ser desafiante, sinto que essa experiência pode ter um grande valor no meu trabalho enquanto investigadora, por permitir uma abordagem muito mais abrangente e diversa.

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O grupo de trabalho em “modos de transporte sustentáveis” dentro do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 – Cidades & Comunidades Sustentáveis (Novembro 2019). Fonte: fotografia da autora.

Além disso, o processo de trabalho e de raciocínio a que somos expostos durante o UNLEASH diverge, de certa forma, do processo de trabalho geralmente aplicado nas universidade. Aqui, o objetivo é chegar a uma solução concreta e prática num período de tempo extremamente curto – 6 dias. A solução final tem de ser simples ao ponto de ser possível explicá-la num pitch de não mais de 3 minutos. Enquanto o nosso trabalho como investigadores é pensar de forma mais profunda e complexa sobre problemas sociais, aqui o método é: simplificar para poder resolver. Apesar de, naturalmente, a produção de conhecimento científico ter o seu lugar e o seu valor, na minha experiência este exercício – de pensar de uma forma mais simplificada e direta – foi bastante enriquecedor. Permitiu-me ganhar novas formas de análise, que eventualmente poderão contribuir para avançar a minha investigação.

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Apresentação das soluções finais em formato de pitch (Novembro 2019). Fonte: fotografia cedida por Korakot Janteerasakul.

Assim, acredito que esta experiência pode ser valiosa para todos os que trabalham para um mundo mais sustentável no dia-a-dia. Todos os anos o UNLEASH tem lugar numa cidade diferente do mundo. Tanto a viagem como as despesas durante o programa (alojamento e refeições) são pagas pela organização. E, talvez mais importante que tudo, passa-se uma semana a trabalhar com pessoas motivadas, competentes e informadas, vindas de todo o mundo. É, portanto, uma ótima oportunidade de sair do mundo académico e conhecer novas realidades e novas pessoas. Para mais informações podes visitar o site da organização: www.unleash.org.


Jessica Verheij trabalha no Instituto de Ciências Sociais como investigadora no projeto ROCK (Regeneration and Optimization of Cultural heritage in creative and Knowledge cities), financiado pelo programa Horizon2020. Tem mestrado em Sustainable Urban Planning & Design pela KTH Royal Institute of Technology em Estocolmo, e mestrado em Geografia Humana pela Universidade de Amsterdão.

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