Por Madalena Duque Santos
Na passada sexta-feira, a 14 de setembro, teve lugar no Instituto de Ciências Sociais uma conferência organizada no âmbito da abertura do programa doutoral em Alterações Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa da Universidade de Lisboa em coordenação com a Universidade Nova de Lisboa.
A conferência, intitulada “Systems Change for Sustainability”, contou com a participação da designer e socióloga australiana Leyla Acaroglu, fundadora da agência de design Disruptive Design (em Nova Iorque) e do laboratório de conhecimento alternativo UnSchool.
Ao longo da sessão, Leyla Acaroglu deu a conhecer aos presentes a sua perspectiva inovadora e complexa de pensamento de sistemas sustentáveis, resultantes de uma combinação de design, ciências sociais e problemáticas ambientais da actualidade, no sentido de provocar uma mudança positiva nos sistemas sociais e ambientais que nos rodeiam, e nos quais nos encontramos integrados.

Acaroglu defende que a crise ecológica deve ser encarada como um conjunto de problemas a estudar e compreender na sua complexidade, e cujas soluções se encontram através desse estudo numa perspectiva holística – assim, o negativity bias é um conceito apresentado pela oradora convidada como um entrave forte à resolução das problemáticas ambientais, no sentido em que reflecte a reacção humana face a informações negativas (tais como a parcial irreversibilidade da acção humana na qualidade dos ecossistemas e das espécies terrestres) que despoletam no indivíduo um sentimento de incapacidade pessoal de agir e transformar o contexto social, económico e ambiental em que vive, e dessa forma o “congela” na capacidade de pensar e construir alternativas.
“O futuro é indefinido; criamo-lo conjuntamente através da participação na construção daquilo que é relevante na actualidade. As nossas acções imediatas determinam os cenários futuros nos quais nos integramos, individual e colectivamente.” (Leyla Acaroglu)
Acaroglu promove uma lógica de “amor aos problemas”, no sentido de entender que as problemáticas incluem em si próprias a sua solução, e que se entendermos um problema em todas as suas vertentes, incluindo as suas causas e efeitos, mais facilmente identificaremos o comportamento que estará na origem do problema.
A especialista em sustentabilidade critica a lógica contemporânea de produção e de consumo, que tem as suas bases num conceito que a autora intitula de design for disposability – que se caracteriza pela produção e design de produtos cuja utilização se resume a um dia, ou alguns minutos, perdendo o seu valor e utilidade após esse período, contribuindo para a acumulação de resíduos. A ideia de que a grande maioria dos produtos que consumimos têm uma obsolescência programada desde o momento de produção caracteriza a lógica do design for disposability. Acaroglu entende o modelo de economia linear a partir de uma sequência de processos: numa primeira fase, a extração dos recursos a partir da natureza, seguindo-se a transformação do recurso nos seus moldes originais através de processos de manufatura industriais/mecânicos, com a finalidade da sua comercialização e consumo que, quando se concretiza, conduz à acumulação de resíduos ou lixo, encerrando o ciclo de vida do produto.
Na reflexão acerca da criação de modelos sustentáveis para o ambiente e para as sociedades, torna-se urgente a convergência, num esforço conjunto, de cidadãos, empresas, governos, associações e organizações em compreenderem o desafio de inovação e de construção de alternativas que a sustentabilidade implica, e dirigirem os seus esforços no sentido de pensar e construir modelos de produção e consumo em que a utilidade dos bens seja preservada, reutilizável e de longa durabilidade – esta noção, aliada à aplicação de modelos de economia circular, poderiam, segundo Acaroglu, representar uma verdadeira solução sustentável para os desafios que as sociedades e o planeta enfrentam.
Da premissa anteriormente exposta, surge o conceito que a autora intitula de Disruptive Design como uma solução para os entraves à sustentabilidade existentes nos actuais sistemas industriais, sociais e ambientais, através da intervenção e reorganização intencional nos sistemas existentes, de forma a obter resultados mais positivos.
“O design diz respeito à criação de algo que adiciona ou replica o que já existe, e a ruptura (“disruption”) corresponde à criação de uma interrupção no sentido de alterar determinado sistema. Quando conjugados, dão origem ao “Design de Ruptura”, que se caracteriza pela intervenção intencional em determinado sistema pré-existente com o objectivo específico de impulsionar resultados diferentes e, acima de tudo, resultados que possibilitem a criação de mudança social positiva.” (Leyla Acaroglu)
As manifestações dos impactos da acção humana nos ecossistemas terrestres indicam-nos a inviabilidade da presente lógica de extractivismo “ilimitado”, bem como da perpetuação da instrumentalização egoísta e materialista da Natureza à vontade humana. Esta lógica deve, então, ser alvo de análise, reformulada e recriada de acordo com a evidência de que o ser humano, tal como qualquer outra espécie, tem necessidades cuja satisfação depende do equilíbrio frágil dos ecossistemas terrestres, que devem ser preservados e respeitados em todas as suas vertentes.

O discurso de Leyla Acaroglu transmitiu, sem dúvida, a ideia de que o desafio da sustentabilidade e das problemáticas ambientais, nas quais se incluem as alterações do clima terrestre, comportam um potencial de impacto transversal em todas as faces da vida na Terra, apelando a soluções interdisciplinares, que conjuguem as múltiplas áreas de conhecimento no desenho de um futuro criado a partir de ideias alternativas e de um planeamento positivo dos sistemas sociais, industriais e ambientais pré-existentes.
Madalena Duque dos Santos é formada em Relações Internacionais e Estudos do Ambiente e da Sustentabilidade. É actualmente colaboradora do Observa – Observatório de Ambiente, Território e Sociedade como bolseira de investigação. madalena.duque@ics.ulisboa.pt