Atrito de inteligências urbanas no urbanismo periférico orientado por dados

Por: Tomás Donadio, Lalita Kraus, Aldenilson Santos e Ramon Carnaval

Desde os anos 1990, consolidaram-se modelos de gestão pública que promovem estratégias de mensuração e monitoramento da vida urbana. Atualmente, estes modelos aliam-se ao acelerado desenvolvimento tecnológico e à sua aclamada função de tornar as cidades mais sustentáveis, humanas e inteligentes. O discurso de cidades inteligentes tornou-se um leitmotif capaz de definir agendas, políticas e projetos urbano-tecnológicos, expandindo infraestruturas computacionais embutidas, distribuídas e integradas no ambiente urbano, como câmaras de vigilância e sensores, somando-se aos dispositivos utilizados individualmente, como redes sociais e aplicações móveis. Entretanto, o urbanismo orientado por dados materializa-se tanto em agendas de cidades inteligentes quanto em iniciativas subalternas, acarretando atritos entre inteligências urbanas divergentes. No Rio de Janeiro, a investigação de ações governamentais e cívicas orientadas por dados contribui para a compreensão de como as lutas pelo direito à cidade avançam de forma agonizante na periferia global. Através de um estudo urbano comparativo, esta investigação explora duas abordagens contrastantes em arranjos sociotécnicos: uma promovida pelo poder público através de uma agenda hegemónica de suposta modernização urbana; outra que emerge nas periferias pela agência da sociedade civil, subversiva e contra-hegemónica.

Continuar a ler