Ambiente, Território e Sociedade na iniciativa “Ciências Sociais em Público”

Por: Mariana Liz

Foi inaugurada a 5 de abril de 2020 a parceria entre o ICS e o jornal Público: Ciências Sociais em Público. Todas as semanas, ao domingo, foi publicado um texto (online, e sempre que possível, também em papel) no suplemento do jornal P2, da autoria de um investigador, investigadora ou equipa de investigadores do ICS. Embora a iniciativa tivesse sido pensada antes do desenvolvimento da Covid-19, muitos dos textos foram necessariamente adaptados face ao que havia sido inicialmente planeado, quer quanto à forma de enquadrar os seus tópicos, quer quanto à escolha de abordagens a realidades que, entretanto, se alteraram. A iniciativa também ganhou uma nova dimensão quando estes textos se tornaram numa das poucas ferramentas à disposição de investigadores para a divulgação científica, numa altura em que, pelo menos em Portugal, tantos estavam confinados em sua casa.

Com o objetivo de poder transmitir resultados de pesquisa de forma clara e concisa a públicos diversos, 53 textos surgiram então até 4 de abril de 2021 sobre os mais diferentes tópicos de investigação, do cinema à alimentação, do racismo à imigração, e com as mais diferentes abordagens e perspetivas, da história à antropologia, da sociologia à ciência política. Oito destes textos foram escritos por investigadores que desenvolvem a sua pesquisa no seio do Grupo de Investigação “Ambiente, Território e Sociedade” (GI ATS). Este post é, assim, um resumo do trabalho publicado no âmbito desta iniciativa, e também um testemunho da abrangência dos temas e metodologias contemplados no trabalho dos investigadores que integram este GI.

Fotografia da autoria de Brotin Biswas (Pexels, 2017)

Governança: das alterações climáticas à vida nas cidades

Três dos textos publicados por investigadores do GI ATS podem ser agrupados sob o tópico da governança. Ora dedicados ao impacto das alterações climáticas na Amazónia (como o caso do texto de Fronika de Wit), ora centrados na reação política e social à Covid-19 em Moçambique (Paulo Granjo), estes textos refletem mudanças estruturais na sociedade contemporânea, problematizando a forma como decisores políticos, legisladores, indivíduos e comunidades em diversas partes do mundo as têm vindo a enquadrar.

A transformação do espaço urbano é outra área de investigação central no GI ATS, e o texto de Roberto Falanga, Jessica Verheij e Francesca Berardi centrou-se nos vazios urbanos de Marvila, freguesia Lisboeta entre o centro histórico e o Parque das Nações, para problematizar novos processos participativos e o envolvimento crescente da comunidade na discussão sobre o futuro do bairro.

Viver em sociedade: do que comemos a como nos aquecemos

Outros textos, também eles radicados no tema da sustentabilidade ambiental, levaram o foco de análise a duas questões igualmente fulcrais para o trabalho do GI ATS: a alimentação e a energia. Monica Truninger e João Graça, por exemplo, defenderam a redução do consumo de carne e a introdução de opções alimentares mais amigas do ambiente nas cantinas escolares como duas medidas-chave na transformação alimentar necessária à garantia da sustentabilidade do planeta. O consumo em excesso de alguns alimentos convive paradoxalmente com a questão do desperdício nas sociedades ricas do mundo contemporâneo, e é a última que é desenvolvida no texto de Fábio Rafael Augusto sobre iniciativas de apoio alimentar no Portugal contemporâneo.

Há muito por fazer em Portugal no que diz respeito à proteção do futuro do planeta, e a pobreza energética é um dos aspetos que menos evoluções positivas tem sofrido no nosso país, tal como indicado pela pesquisa de Ana Horta. Estes três textos acompanham o foco do texto sobre Marvila: discutem, a partir do caso português, questões de interesse universal, ao mesmo tempo que, comparando-o com exemplos estrangeiros, ensaiam soluções para desafios que se colocam a nível nacional.

Problematizar a sociedade: do papel da ciência à importância da cultura

Enquanto grupo de investigação marcadamente interdisciplinar, o GI ATS tem desenvolvido uma série de iniciativas de promoção do envolvimento público com a ciência, e o texto de Ana Delicado, João Estevens e Jussara Rowland parte do trabalho realizado no âmbito do projeto Concise para apresentar algumas ideias chave sobre como a comunicação de ciência tem sido vista pelos cidadãos.

Finalmente, um texto da minha autoria, dedicado ao cinema das realizadoras portuguesas, descreve os principais resultados de investigação do projeto Portuguese Women Directors, centrando-se na forma pouco consensual como o feminismo se desenvolveu em Portugal na era democrática, e sublinhando o papel da arte e da cultura, e do cinema em particular, para o entendimento da sociedade.

Outras ligações

Para além das ligações estabelecidas neste post, os textos aqui referidos podem ser lidos a par dos textos de investigadores de outros grupos de investigação também publicados na série do Público, nomeadamente o Grupo de Investigação “Life” e o Grupo de Investigação “Impérios”.

Também o texto de Inês Ponte, por exemplo, reflete sobre o lugar do cinema na investigação em ciências sociais. A questão do género é central para o texto de Anne Cova, Isabel Freire e Vanda Gorjão sobre as lutas feministas em Portugal, e para o texto de Filipa Vicente sobre Emmeline da Cunha. O tema da alimentação está presente no texto de Francisco Henriques sobre a história da indústria conserveira, e na abordagem contemporânea de Vasco Ramos às escolhas alimentares que fazemos no dia-a-dia. Finalmente, a sustentabilidade ambiental enquadra o texto de Verónica Policarpo sobre famílias com animais, bem como o texto de João Afonso Baptista sobre a relação entre Portugal e os oceanos.

Com o número de partilhas a superar, em muitos casos, os 1000, estes textos permitiram levar a um público para além da academia, os resultados, ideias e propostas de ação de investigadores nas mais diversas áreas e das mais diversas disciplinas. Que esta reflexão possa ser um ponto de partida, não só para pensar as ligações que, dentro e fora do GI ATS, geram sinergias entre investigadores, temas, métodos e projetos de investigação, mas também para sublinhar a importância de textos, que, na imprensa ou em blogues como este, ajudam a comunicar de forma mais simples (mas não simplista), os resultados dessas mesmas sinergias.


Mariana Liz é Investigadora Associada no ICS-ULisboa.

E-mail: mariana.liz@ics.ulisboa.pt

2 thoughts on “Ambiente, Território e Sociedade na iniciativa “Ciências Sociais em Público”

  1. misturador monocomando em ouro 24 Maio 2021 / 12:28 am

    Muito obrigado por compartilhar informações tão úteis. Definitivamente vou compartilhar isso com os outros.

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